O Julgamento, Narrativa Crítica da Justiça
de Álvaro José Brilhante Laborinho Lúcio
Notas de Leitura 1:
1.
Tive ocasião de colaborar na apresentação do livro e
do seu autor no dia 15
de Novembro de 2012, na Livraria Lelo do Porto e é o essencial dessa apresentação
que aqui vos trago, em diversas partes.
O Autor, amigo e colega de décadas, dispensa apresentação
que ou é desnecessária, e é-o, ou, apesar dos esforços honrados do
apresentador, será seguramente pobre, perante os seus méritos e a sua
personalidade moral e intelectual.
Licenciado
em Direito e Mestre em Ciências Jurídico-Civilisticas, é juiz conselheiro
jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, membro eleito da Academia
Internacional da Cultura Portuguesa, vice-presidente do Conselho Geral da
Universidade do Minho, presidente da Assembleia-Geral da Associação Portuguesa
para o Direito dos Menores e da Família e da Mesa do Congresso da Associação
dos Juristas de Língua Portuguesa e Professor Coordenador Honorário.
Integra
o Conselho Geral da Fundação do Gil, é membro do Conselho de Curadores da
Fundação Liga.
Foi sucessivamente
delegado do procurador da República, juiz de direito, procurador da República,
inspector do Ministério Público, procurador-geral adjunto, director da Escola
de Polícia Judiciária, director do Centro de Estudos Judiciários, secretário de
Estado da Administração Judiciária, ministro da Justiça, deputado à Assembleia
da República, presidente da Assembleia Municipal da Nazaré, ministro da
República para a Região Autónoma dos Açores e, por designação do Presidente da
República, vogal do Conselho Superior da Magistratura.
Foi Fundador
da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, da Associação Portuguesa de Direito
Europeu e da Associação de Criminólogos de Língua Francesa.
Tem publicadas
várias obras e artigos em matéria de formação de magistrados, organização
judiciária, aplicação do direito, psicologia forense, direito e processo penal,
direito judiciário, cidadania e direito, cidadania e educação, sistemas de
justiça, direito tutelar educativo e direitos das crianças.
Tem
proferido inúmeras palestras sobre temas ligados à justiça, educação,
cidadania, direito de crianças e jovens e direito em geral.
Foi
agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de D. Raimundo de Peñaforte e com a Grã-Cruz
da Ordem de Cristo.
Isto
dito, ficaria por referir a estatura intelectual do Autor, a sua formação profunda
e multifacetada, a sua capacidade para interpelar os outros, mas também para
dar a sua visão sustentada, na procura sempre de um diálogo também de
cidadania, matéria que sempre mereceu a sua especial atenção, por si e
relacionada com a justiça.
Como
ficaria por sublinhar a sua formação humana, o seu grande respeito pela
diferença e pelo outro, a sua lealdade, afectividade e solidariedade.
2.
O
Julgamento,
de que nos ocupamos hoje, assume a forma de um longo depoimento constante de um
“auto de inquirição” assim apresentado logo ao abrir, no manifesto
“Anti-Dantes”:
«Este é o produto – diz − de uma memória
propositadamente não elaborada, sem trabalho de reconstituição, escorrendo em
palavras a partir de uma mistura de lembranças e de esquecimentos, desprendida
do rigor das provas, alheada dos documentos, dispensada de graves desígnios de
certeza como fundamento de uma razão que se quer ver reconhecida.»
«E uma memória… apenas memória!
Como acontecia com as
testemunhas que eu ouvi!
Sem preocupações científicas,
falando para gente comum, este livro de restos procura a justiça seguindo o
trilho deixado pelas pegadas de muitos. Pelas minhas próprias pegadas. Nele
encontro histórias. Revejo factos. Surpreendo pessoas. Releio ensaios. Confesso
fracassos. Esqueço erros. Louvo e censuro. Num constante recomeço. Tudo na
ilusão, apenas, da justiça.»
Reconhecendo
a necessidade de ir além do presente e encetar um percurso, de tempo longo, entre
passado e futuro o Autor fá-lo com “uma narrativa crítica da justiça”,
que completa o título de “o julgamento” que o Autor pretende que seja o que vir
a ser feito, sem que se negue a fazer o seu próprio julgamento, pois que, como
confessa, de uma narrativa comprometida se trata. Apenas «uma» narrativa, mas
construída na convicção da sua utilidade como mais um contributo «para a edificação de uma atitude e de um
pensamento comuns, que se não esgotem mais na contemplação da crise do que na
aventura responsável da redescoberta da justiça».
Senhor de
um discurso sedutor no seu poder e envolvência, mas sempre ao serviço da substância
do seu pensamento, consegue conciliar aqui, não uma, mas várias narrativas, com
códigos narrativos diversos que, sem se confundirem, se entrelaçam num todo
onde o impressionismo se casa com o expressionismo, a memória afectiva com a
racionalidade, a simplicidade com a profundidade analítica, a filosofia com o pragmatismo.
Com
efeito, se promete uma narrativa crítica,
oferece ao invés, várias narrativas distintas, ligadas no entanto na sua
contemporaneidade: a sua história de vida funcional, a análise da evolução da
sociedade, instituições e comportamentos e a sua visão da justiça.
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