Por: Fernanda Palma, Professora
Catedrática de Direito Penal
A pena de morte, encarada como um
instrumento indispensável da política criminal pelas autoridades chinesas, é
absolutamente proibida na Região Autónoma de Macau. A República Popular da
China leva essa proibição muito a sério, não procurando iludi-la com um sistema
de transferências expeditas dos arguidos para outras partes do seu território.
Invocando o exemplo de Macau, um
professor de Direito da Universidade de Shantou, no Sul da China, defendeu, num
artigo de jornal, a abolição da pena de morte: "É impossível dissociar o
nosso país da maré global", escreveu Liu Guofu, acrescentando que,
"nos círculos académicos, especialmente no campo jurídico, o apoio à
abolição da pena de morte se tornou a tendência dominante".
Portugal foi o primeiro país a abolir
a pena de morte, na Reforma Penal de 1867. A última execução em território
nacional ocorrera 21 anos antes, em Lagos. Ribeiro dos Santos é considerado o
primeiro abolicionista português, ao ter defendido que a pena de morte era
desnecessária e inconveniente, num artigo publicado no Jornal de Coimbra em
1815.
Num texto entusiástico de 1876, Victor
Hugo saudou assim a nossa decisão: "Está pois a pena de morte abolida
nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. Felicito a
vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa
glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida!
Ódio ao ódio".
Hoje, a Constituição portuguesa
consagra a inviolabilidade da vida humana, proíbe a pena de morte e impede a
extradição por crimes a que corresponda a pena de morte. Este regime não obsta,
porém, à realização da Justiça, uma vez que o Estado português se obriga a
julgar e a punir os factos sempre que forem considerados crimes à luz da nossa
lei.
Aquela passagem do Talmude, evocada em
‘A Lista de Schindler’ (e aplicável, com inteira propriedade, a Aristides Sousa
Mendes), segundo a qual "quem salva uma vida, salva o mundo inteiro",
também vale para o Direito. Com todos os seus defeitos e limitações, o Direito
português salvou toda a Humanidade em cada execução que "convolou" numa
pena diferente.
Correio
da Manhã 25-11-2012
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domingo, 25 de novembro de 2012
Direito português
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