por
FERREIRA FERNANDES
Se bem percebi, uma inspetora da PJ,
tendo programado um crime de morte, deixou o telemóvel em casa, para que as
antenas não lhe seguissem o percurso, e do Porto para Coimbra não foi pela A1,
para as portagens não a denunciarem. Tudo bem, serviu-se dos saberes profissionais.
Depois, meteu 13 balázios na avó do marido com uma 9mm que roubara a uma
colega, pistola de calibre das distribuídas aos inspetores da PJ, e deixou no
local do crime as cápsulas, de um lote que, seguido, foi dar à PJ-Porto. Para
mais, nem arrombou a porta da morta nem a casa ficou desfeita simulando um
roubo. Enfim, tudo mal, a inspetora apontou para si o crime. A confirmar-se
tudo isto, atazana-me esta dúvida: o que tramou a inspetora foi ela conhecer
truques que um bom polícia conhece ou ela foi traída por mostrar tanta tolice
que só podia ser de um polícia português? Digo isto porque a tolice à
portuguesa começa a ser uma marca do nosso ADN. Por isso saúdo as minhas duas
colegas do Público que acabaram o seu texto de ontem sobre o caso da inspetora
com uma autoironia soberba. Sobre os repórteres que dão de barato os bitaites
de vizinhos de crimes, escrevem elas dessas testemunhas: "Aos jornalistas
dizem que se quiserem que passem outra vez à noite, depois dos telejornais.
Nessa altura já saberão mais do caso." O jornalismo português, sobretudo a
reportagem, precisa mais de profissionais assim, que saibam desmontar a
realidade do reality show.
Diário de Notícias, 29 de Novembro de 2012
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