Procuradoria-Geral
da República. Cândida Almeida não está na lista do governo
O
nome do próximo PGR ainda não está escolhido. Belém admite que a 9 de Outubro
possa não haver decisão
LUÍS
ROSA
luis.rosa@ionline.pt
SÍLVIA
CANECO
silvia.caneco@ionline.pt
Cândida
Almeida não está na corrida para procuradora-geral da República. Ao contrário
do que tem sido avançado, o i apurou junto de fontes governamentais que a
directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DOAP) não é,
neste momento, um dos nomes discutidos entre o governo e o Presidente da
República
Apesar
de a ministra Paula Teixeira da Cruz ter uma boa relação com a magistrada e de
o ministro Miguel Relvas, por exemplo, ser um grande defensor do seu nome,
Cândida Almeida não está entre os nomes “prováveis” que estão em cima da mesa
para substituir Pinto Monteiro.
As
últimas declarações públicas que fez sobre políticos e corrupção, na
Universidade de Verão do PSD, não só beliscaram a sua imagem no seio do
Ministério Público como poderão ter sido uma das razões a inviabilizar a sua
escolha, já que parecem contrariar o perfil pretendido pela ministra da Justiça
para ocupar o cargo. Como o i adiantou ontem, Paula Teixeira da Cruz está à
procura de um nome com um currículo na área da criminalidade
económico-financeira e que possa fazer um acérrimo combate à corrupção,
marcando uma ruptura com a visão de Pinto Monteiro, que chegou a afirmar
publicamente que a corrupção não era o maior problema do país.
Além
disso, o nome de Cândida Almeida não colhe o apoio de muitas vozes dentro do
mundo judiciário. Apesar de liderar o departamento que investiga a
criminalidade mais complexa, a sua imagem ficou fragilizada pelas polémicas em
torno de processos ali investigados, como o Freeport ou o Portucale. As
declarações na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, aliadas à
resposta enviada, uns dias depois, ao ministro Paulo Portas sobre o processo
que investiga suspeitas de corrupção na compra dos submarinos, acabaram por
comprometer também a sua escolha. Fontes judiciais contactadas pelo i entendem
que, depois dessas declarações, se Belém optasse por esta opção seria
inevitável fazer uma leitura política.
Embora
estas últimas declarações tenham levado as vozes críticas a acusá-la de se
estar a “autopropor” ao cargo de PGR, a verdade é que Cândida Almeida nunca
assumiu publicamente se estaria ou não disponível para substituir Pinto
Monteiro. Em 2006, a imprensa chegou a avançar que a magistrada terá recusado
um convite do procurador-geral da República para ser procuradora distrital de
Lisboa, com o argumento de que só sairia do DCIAP se fosse promovida para o
Supremo Tribunal de Justiça. Cândida Almeida chegou a ficar graduada para o
Supremo, mas a vaga já caducou.
ATRASOS?
Apesar do nome de Cândida Almeida estar afastado das negociações, o processo,
como o i adiantou ontem, ainda não está fechado. Cavaco Silva tem discutido o
assunto com a ministra da Justiça, mas o governo e Belém continuam à procura de
chegar a consenso sobre a pessoa com o perfil indicado para liderar a
Procuradoria.
A
Presidência da República e o governo continuam à procura de um consenso,
admitindo-se mesmo, ao que o i apurou, que o processo possa não estar terminado
no dia 9 de Outubro – data em que termina o mandato de Pinto Monteiro. A
Presidência da República está preparada para este cenário, apesar de no governo
se admitir, de forma mais optimista, que o processo estará concluído na próxima
semana. Se houver atrasos, Pinto Monteiro sairá da Procuradoria-Geral da
República na data em que cumpre seis anos à frente do MP. E enquanto não tiver
sido nomeado um novo PGR, será substituído no cargo pela vice-procuradora-geral
da República, Isabel São Marcos. Um atraso na escolha de um novo nome não seria
inédito. Em 1986, quando terminou o mandato de Arala Chaves, foi preciso
esperar mais de seis meses para se ver Cunha Rodrigues nomeado.
AS
OPÇÕES A procuradora Francisca Van Dunem chegou a ser dada como uma das
hipóteses mais prováveis para substituir Pinto Monteiro, dadas as suas relações
com Angola e os elogios ao seu trabalho à frente da Procuradoria Distrital de
Lisboa Mas o seu nome, ao que o i apurou, também não está em cima da mesa. Os
conselheiros Henriques Gaspar – que terá perdido a corrida à última hora, em
2006 – e Santos Cabral, o ex-procurador-geral distrital de Coimbra, Braga
Themido, e Euclides Dâmaso, que ocupa actualmente esse cargo, são nomes
prováveis. De todos, Santos Cabral é o que recolhe menos apoio nos vários
sectores do MP. Não está afastada a hipótese de a PGR ser liderada pela
primeira vez por uma mulher ou por um advogado.
Pinto
Monteiro. “Não se julgam governos”
O
PGR defendeu, em entrevista à RTP, que o inquérito às PPP não pretende julgar
governos anteriores
O
procurador-geral da República, Pinto Monteiro, não quis adiantar ontem se os
ex-ministros das Obras Públicas Mário Lino e António Mendonça e o ex-secretário
de Estado Paulo Campos terão sido constituídos arguidos depois das buscas no
âmbito do inquérito-crime às parcerias público-privadas. Mas deixou a mensagem
de que “não se julgam governos anteriores”, e que os governantes são
investigados, não por razões políticos, mas “se estiverem em causa ilícitos
criminais”. “Não vamos julgar governos por negócios que terão feito mas
correram mal. Se não acaba-se a democracia”, afirmou, acrescentando que “só
pelas buscas não se pode concluir nada”.
Sobre
o processo Freeport, durante a entrevista à RTP, o PGR relembrou as
circunstâncias em que nasceu o caso e defendeu mesmo que este foi “o processo
mais investigado” do seu mandato. Pelo meio, reafirmou que a prova produzida no
julgamento já está nas mãos do DCIAP e aproveitou para deixar críticas à forma
como decorreu o julgamento. “Ninguém espera que não sejam julgados dois
indivíduos, mas alguém que está ausente.”
Questionado
sobre as alegadas pressões de José Sócrates, frisou que “nunca alguém teve o
descaramento” de lhe ligar para influenciar um processo e que o
ex-primeiro-ministro apenas lhe fez um telefonema, no primeiro ano do seu
mandato, para lhe desejar bom Natal. Pinto Monteiro foi ainda mais longe e
acrescentou, a propósito da destruição de escutas do Face Oculta, que “se fosse
primeirominjstro autorizava a divulgação”. “É caricato pretender que aquelas
conversas constituam um crime.” S. C.
i de 27-09-2012
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