Os três projectos para criminalizar o enriquecimento ilícito aprovados na generalidade pelo Parlamento terão de ser alterados, no debate da especialidade, sob pena de serem declarados inconstitucionais.
PSD, CDS, PCP e BE não conseguiram superar a regra consagrada na Constituição da República que protege o arguido de ter de provar a sua inocência, diz o penalista Magalhães e Silva. Ou seja, os partidos cometem o ‘pecado legal’ da chamada inversão do ónus da prova. «É inconcebível que o Tribunal Constitucional permitisse a condenação penal com base em qualquer dos projectos», sublinhou ao SOL o penalista.
Vital Moreira, um dos mais respeitados constitucionalistas portugueses, actualmente eurodeputado pelo PS, é lapidar na avaliação negativa dos projectos: «Na Inquisição é que os acusados tinham de provar a sua inocência, e não os acusadores». As dúvidas de constitucionalidade vêm de todos os quadrantes.
Magalhães e Silva, dois dias depois da aprovação da lei na generalidade, fez um «Aviso à Navegação», título da sua crónica no Correio da Manhã. Congratulando-se com a aprovação da lei na generalidade logo acrescenta: «É apenas um primeiro passo». Agora «exige-se humildade republicana» para «cada partido prescindir» dos elementos que podem fazer o projecto «violar o princípio da presunção da inocência». Se não o fizerem, diz Magalhães e Silva, a Assembleia terá obtido «uma vitória efémera».
Magalhães e Silva, dois dias depois da aprovação da lei na generalidade, fez um «Aviso à Navegação», título da sua crónica no Correio da Manhã. Congratulando-se com a aprovação da lei na generalidade logo acrescenta: «É apenas um primeiro passo». Agora «exige-se humildade republicana» para «cada partido prescindir» dos elementos que podem fazer o projecto «violar o princípio da presunção da inocência». Se não o fizerem, diz Magalhães e Silva, a Assembleia terá obtido «uma vitória efémera».
O advogado de Direito Penal faz uma advertência final: «Estão à espreita todos os que (…) confiam na manutenção de algumas irregularidades dos projectos aprovados na generalidade para ganharem a batalha». Dito de outro modo: há quem saiba que os projectos, depois de baixarem à comissão, se não forem alterados, serão inofensivos. Alguém acusado do crime de enriquecimento ilícito terá no Tribunal Constitucional a garantia de que não será condenado. Porque a lei está mal feita.
A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, foi uma grande impulsionadora da criminalização do enriquecimento ilícito, embora o projecto seja assinado pelo PSD e pelo CDS. Ao que o SOL apurou, Teixeira da Cruz empenhou-se em ultrapassar resistências no seu próprio partido e segue com atenção o processo.
Mas o projecto assinado pelos líderes parlamentares Luís Montenegro (PSD) e Nuno Magalhães (CDS) incorre «numa violação clara do princípio da presunção de inocência», assegura Magalhães e Silva.
Mas o projecto assinado pelos líderes parlamentares Luís Montenegro (PSD) e Nuno Magalhães (CDS) incorre «numa violação clara do princípio da presunção de inocência», assegura Magalhães e Silva.
‘Irreformável’, diz Vital
Vital Moreira acha que o trabalho de comissão (a discussão na especialidade) nada pode perante os vícios constitucionais. «Não vejo como é que pode dar-se a volta aos projectos de punição de enriquecimento ilícito. Não há crimes presumidos», diz ao SOL.
Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS, considera que a questão da constitucionalidade foi ultrapassada com as alterações entretanto introduzidas à proposta original do PSD. Para o deputado, o actual documento «procura evitar conceitos indeterminados, objectivar a incriminação e defende a presunção de inocência ao prever que o Ministério Público tem de provar o crime».
Ainda assim, na bancada do CDS subsistem dúvidas. «Não podemos dizer, com honestidade, que todas as hesitações e dúvidas que colocámos no passado foram respondidas de forma inequívoca», refere a declaração de voto entregue por vários deputados centristas, que sublinham, no entanto, a melhoria do projecto. Nuno Magalhães diz que o CDS está disponível para alterações.
As reservas ao projecto estendem-se ao PSD. Paulo Mota Pinto, deputado social-democrata que já foi juiz do TC afirma que os projectos aprovados lhe «suscitam sérias dúvidas, quer no plano da sua conformidade constitucional, quer no da conveniência político criminal».
As reservas ao projecto estendem-se ao PSD. Paulo Mota Pinto, deputado social-democrata que já foi juiz do TC afirma que os projectos aprovados lhe «suscitam sérias dúvidas, quer no plano da sua conformidade constitucional, quer no da conveniência político criminal».
Já o constitucionalista e ex-deputado do PSD Bacelar Gouveia defende que a proposta não ofende o princípio da presunção de inocência: «Não acho que seja inconstitucional. O ónus da prova fica no Ministério Público».
Manuel A. Magalhães e Susete Francisco
Manuel A. Magalhães e Susete Francisco
Sol (on line) 4 de Outubro de 2011
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