Cronista prudente, estou a organizar uma lista das palavras que não posso usar, a não ser que esteja disposto a arrostar (e não estou) com os rigores linguísticos da Justiça. Já sei que a palavra "energúmeno" dá prisão, multa e indemnização, pois, independentemente de os dicionários dizerem que ela significa "pessoa que, possuída por uma obsessão, pratica desatinos", no Tribunal do Bolhão significa, como diz Rui Rio, "alguém que não tem princípios". "Cromo" é palavra que também nunca escreverei, e nem me vale a pena ir ao Dicionário da Academia, pois o Tribunal da Relação de Coimbra acaba de determinar que as palavras são injuriosas ou ofensivas "não pelo significado constante de qualquer dicionário mas pela conotação que lhes é dada pelo povo". Arrumei, por isso, os dicionários e, agora, de cada vez que escrever, irei à rua folhear o povo (o que quer que seja o povo, há-de estar por ordem alfabética). A coisa tem vantagens poderei, por exemplo, qualificar Rui Rio de "espiritado" em vez de "energúmeno", ou chamar quem eu quiser de "ímprobo", "esquipático", "espeloteado", "imbele", "macavenco", "furbesco" e "destabado", ou acusá-lo de "relesa", de "tataria" ou até de "versúcia", pois não é provável que o povo dê qualquer conotação a isso.
terça-feira, 24 de outubro de 2006
Palavras para que vos quero
Por Manuel António Pina, no JN de hoje:
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