Bestiário
A RTP noticiou ontem o desmantelamento de uma rede pedófila com ramificações em vários países europeus, entre os quais Portugal. A reportagem alternou o discurso directo de investigadores da PJ com o discurso em voz off do jornalista a contextualizar os acontecimentos. A escolha de imagens para acompanhar a notícia passou, por diversas vezes e de forma absolutamente incrível, pela exibição do tipo de material apreendido. Ou seja, no principal telejornal da RTP foi exibido, sem qualquer discrição, material pedófilo. Não houve pudor em mostrar fotografias de adolescentes nus ou semi-nus, nem sequer de escamotear a sua identificação. Não foi utilizado qualquer dos inúmeros recursos que permitiriam dissimular a natureza explícita das imagens ou, no mínimo, a identidade dos jovens. A pornografia infantil teve carta branca para entrar pelas casas dentro sem pedir licença.
Não consigo se compreende como é que ninguém parou para pensar na obscenidade que emitiram, violando todas as regras de sensibilidade do espectador, já para não falar nos mais elementares direitos dos jovens. Há uns dias foi emitido em vários espaços noticiosos, também pela RTP, um assassinato a sangue frio. Agora podemos ver material pedófilo à hora de jantar. Uma pessoa tem o direito de se sentir ultrajada com tamanha falta de sensibilidade demonstrada. Uma pessoa ultrajada sente naturalmente uma ânsia de ver-se de alguma forma ressarcida, nem que seja sabendo que foram pedidas explicações a quem quer que tenha sido responsável por estas emissões. Num órgão de comunicação social decente, este tipo de coisas seria suficiente para fazer rolar cabeças. Mas na RTP já se sabe qual é o principal critério para mudar alguma coisa.
Do blog Viva Espanha
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