Duas ‘estrelas’ do Ministério Público estão em guerra por quererem investigar o mesmo gangue do Multibanco. Cândida Almeida, diretora do DCIAP, acusa Vilar, da Unidade de crime violento, de desviar processos para entregá-los à GNR e à PSP.
Quando rebentou com uma caixa Multibanco no Pinhal Novo, Carlos R., suspeito de vários assaltos do mesmo género, estava longe de imaginar que ia dinamitar a relação entre duas das mais importantes figuras do Ministério Público e do combate ao crime mais grave: Cândida Almeida e Cândida Vilar. A diretora do DCIAP fez uma participação ao procurador-geral, Pinto Monteiro, contra a chefe da Unidade de Combate ao Crime Especialmente Violento do DIAP de Lisboa. Motivo: Carlos R. já estava a ser investigado pela PJ num processo dirigido pela equipa de Cândida Almeida. Mas foi a GNR, com mandados de busca e detenção assinados por Cândida Vilar, que prendeu Carlos R. há menos de um mês, numa casa do Pinhal Novo.
Segundo o Expresso apurou, Cândida Almeida alegou junto do PGR que a colega desvia deliberadamente processos do DCIAP e da PJ para os entregar à PSP e à GNR, violando assim a Lei de Organização Criminal.
“Eu sei que houve uma participação ou uma queixa da doutora Cândida Almeida por causa do processo do Multibanco, mas não me posso pronunciar porque não sei exatamente o que foi dito”, admite Cândida Vilar. “O que eu posso dizer é que qualquer pessoa que leve um tiro ou seja assaltada na rua não quer saber se é a brigada 51 ou a 53 que vai investigar. Eu quero combater o crime e a PJ não pode ficar com os processos todos porque não tem pessoas suficientes”, defende a procuradora, que já investigou casos como o dos skinheads ou a máfia da noite liderada por Alfredo Morais.
Contactada pelo Expresso, Cândida Almeida diz que não fará qualquer declaração “até haver uma decisão do procurador-geral”. A diretora do DCIAP, responsável pela investigação dos crimes mais complexos e violentos, é a magistrada mais antiga do MP e amiga pessoal de Pinto Monteiro, apesar da relação ter arrefecido depois de Cândida Almeida ter autorizado os procuradores do ‘processo Freeport’ a incluírem as perguntas que não fizeram a José Sócrates no despacho de arquivamento.
Dê-me a bateria
De acordo com o que o Expresso conseguiu apurar, depois da detenção de Carlos R., o DIAP de Lisboa pediu à PJ que entregasse alguns objetos que já tinha apreendido ao suspeito numa busca, nomeadamente uma bateria e fios de cobre. Foi levantado um conflito de interesses e Pinto Monteiro acabou por decidir que seria o DIAP e a GNR a ficarem com o processo.
Quando foi ouvida, Cândida Almeida terá feito “acusações muito graves”, diz uma fonte judicial que não quer ser identificada. “Agora terá de as concretizar”, diz a mesma fonte. Há três semanas decorreu uma reunião tensa entre Cândida Vilar, o procurador Vítor Magalhães (que integra a equipa de Cândida Almeida e conduzia a investigação), um oficial da GNR e o diretor do contraterrorismo da PJ, Luís Neves.
Esta não é a primeira vez que surgem conflitos entre a Unidade de Crime Violento e a PJ. Em março de 2010, em entrevista ao Expresso, Carlos Figueira, procurador do DIAP, acusou a PJ de se recusar a investigar grupos criminosos e de não ter motivação para concluir casos descobertos pelas outras polícias. Houve uma reunião para esclarecer “as dúvidas”, mas ficou tudo na mesma. Até agora.
O PGR encarregou a sua vice, Isabel São Marcos, de investigar as acusações de Cândida Almeida. Mas nenhuma das intervenientes foi chamada para prestar declarações e o Conselho Superior do Ministério Público ainda não tem conhecimento oficial do caso.
Rui Gustavo
Expresso e 11-02-2012
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