quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Palavras

Por Manuel António Pina, no JN de ontem
Até o leitor. Se pensar bem há-de ter em qualquer sítio alguma coisa que lhe pode ser tirada para pagar o défice. Talvez, quem sabe?, a colecção de moedas ou a colecção de calendários.…Já se coleccionar acções, ou conselhos de administração, pode estar sossegado que a política de austeridade não chega a tanto. Está mais virada para luxos como reformas, assistência médico-social, medicamentos, emprego e coisas do género.

Na campanha maccarthista de denúncias de "privilégios" que por aí vai, soube-se outro dia por um advogado que escreve nos jornais (ou um jornalista que exerce advocacia) que até a taxa de justiça que os portugueses pagam nos tribunais vai para os bolsos dos juízes. A ideia era, fazendo jus à injustificada fama que os advogados têm de meter as mãos nos bolsos alheios, metê-las no por assim dizer bolso judicial e tirar de lá a taxa para a entregar ao défice. Ora não se veio a apurar que, afinal, a taxa de justiça vai, em boa parte, para a Caixa de Previdência dos advogados? Só no ano passado, por exemplo, os advogados foram lá buscar 8,6 milhões de euros e, a crer nas declarações de IRS de muitos deles, bem devem ter precisado da ajuda.…

E os deputados? Afinal também beneficiam (sabe-se lá porquê) dos "privilégios" dos Serviços Sociais do Ministério da Justiça, e recebem senhas de presença, ajudas de custo, subsídios de residência, viagens em 1.ª classe, reformas, eles e os autarcas, antes dos 65 (e até, como recentemente Santana Lopes, antes dos 50 ou dos 40).

Somos todos "privilegiados", ou ainda menos...

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