Tentando enquadrar os blogs
A revista francesa, Expertises des systèmes d’information, n.º 294, de Julho corrente, tece algumas considerações sobre a realidade dos blogs, que valerá a pena ponderar.
Aos diaristas do século XIX, que terão continuado pelo século XX, depara-se pelo ano 2000 a interactividade, isto é, a possibilidade de recolher reacções do mundo à exposição da sua complexidade psicológica.
Os blogs serão uma espécie de jornais íntimos em que se renunciou à intimidade para aceder a um lugar público.
Os políticos começam a usá-los estrategicamente e os jovens “nativos do numérico”, se ainda não fazem a propaganda, buscam porém a sua promoção num círculo que já é o dos adultos.
“O impacto deste novo modo de comunicação, sensível sobre as redes do poder, criou uma onda de choque sobre os media tradicionais. Por toda a parte do mundo onde a censura é denunciada desenvolvem-se blogs susceptíveis de pedir contas aos media oficiais”.
Recentemente, um jornalista do Le Monde, despedido por ter criticado num aspecto concreto o seu jornal, abriu um blog onde conseguiu obter sobre o periódico que o despedira uma influência que o suporte de papel lhe negara.
Importa, porém, diz-se no artigo a que nos vimos referindo, que a informação seja devidamente verificada e inatacável juridicamente; sobretudo que ela intervenha num contexto geopolítico de tipo democrático.
Claro que estamos agora situados não num modelo intimista moderno, sucedâneo dos séculos anteriores, mas num novo modelo de exercício de liberdade de expressão e crítica, algo que se poderá dizer concorrente do jornal tradicional.
Por exemplo na China, o glamour é “blogável” mas não já o Dalai-Lama, e a Microsoft deu uma “ajudinha” através do programa MSN Spaces, permitindo a recusa (leia-se censura) automática de palavras “chocantes”.
Estaremos no limiar de um outro Poder? - perguntamos nós.
Como todos verificamos, os media, em particular as televisões, vão edificando um mundo feito de imaginário, por vezes doentio, numa desconstrução de valores sedimentados, alguns bem outros mal, ao longo dos anos – pela primeira vez dei por um programa da TVI em que se ultrapassa o razoável, caindo numa violação completa da intimidade dos intervenientes, com o seu pretenso consentimento.
Os critérios de economicidade, em que a publicidade é rainha, impingindo-nos mensagens dirigidas a atrasados mentais, de cujos réditos as televisões se servem para pagar programas do mesmo quilate daquelas, criaram um círculo vicioso.
Para além da mera troca de impressões, substituindo também o antigo “lugar do café”, num ambiente tecnologicamente cada vez mais simples e rápido, vejo os blogs como um novo espaço onde se pode contrariar estas correntes hodiernas, aproveitadas habilmente para construir imagens de artistas circenses, com todo o respeito pelo circo, ou para destruir cidadãos honestos. Acima de tudo, deixando de lado – porque fora dos injustos critérios seguidos – gente sadia e interessante.
Respeitados os valores eticamente fundados, este é um novo espaço de liberdade, no qual se pode ajudar a restabelecer o equilíbrio entre os diversos Poderes. Porque é hoje bem visível como os media podem desequilibrar a balança em favor de interesses económicos e políticos, nem sempre determinados pela independência de opinião e pela objectividade.
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