Bastonário da Ordem dos Advogados responde ao chefe de gabinete da ministra.
Vale a pena contar toda a história da participação da ministra da Justiça no VII congresso dos advogados portugueses. Como é tradicional, convidei-a para a sessão solene de abertura, bem como ao Presidente da República, entre outras individualidades. O PR informou-me pessoalmente, no Palácio de Belém, de que não poderia ir porque nessa data estaria nos Estados Unidos em visita oficial. A sra. ministra não deu qualquer resposta até que, três dias antes do congresso, apareceu no local uma brigada da PSP que vistoriou todo o auditório, provavelmente à procura de algum engenho explosivo.
No dia seguinte, o chefe de gabinete da ministra informou a OA de que, por força do protocolo de Estado, ela só aceitaria o convite se presidisse à cerimónia e discursasse em último lugar. Foi-lhe então explicado que todas as cerimónias da OA são presididas pelo bastonário, que este é sempre o último a falar (a única exceção é para o Presidente da República) e, portanto, se ela quisesse ir ao congresso seria bem recebida, se não quisesse, paciência… A ministra acabou por ir, exigindo apenas discursar logo a seguir ao presidente da Câmara da Figueira da Foz que era o primeiro orador. Assim foi.
Recebi-a com delicadeza à saída do seu automóvel e acompanhei-a até à mesa de honra onde ficou sentada ao meu lado direito.
Porém, no seu discurso, atacou-me de forma disparatada e abandonou a cerimónia logo de seguida, quando discursava o presidente do Conselho Distrital de Coimbra. Antes de sair sussurrou-me, com cinismo, que lamentava não ouvir o meu discurso, mas tinha de ir para o debate do Orçamento no Parlamento. Ninguém, antes, informara a OA de que ela teria de sair a meio da cerimónia.
Verifica-se, pois, que um membro do atual Governo, num gesto de pura mesquinhez, foi ao congresso dos advogados apenas para ajustar contas pessoais com o próprio presidente do congresso. Sempre aprendi que nos devemos comportar com educação na casa dos outros. Podemos aceitar ou recusar um convite, mas quando o aceitamos devemos respeitar quem nos convida. Mas, pelos vistos, nessa matéria, a educação da sra. ministra é igual à do atual presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
A ministra abandonou a sessão, sem se despedir de ninguém, faltando ao respeito a todos os presentes, incluindo outros convidados, e mentindo sobre os motivos por que o fazia, pois se falasse em último lugar, como exigira, então já não teria de se ausentar a meio da cerimónia. O que ela, na verdade, queria era apenas agredir quem a convidara e fugir rapidamente com medo da resposta.
No seu discurso, ela disse ainda que estava no Congresso por direito próprio pois também era advogada. Tratou-se de um ato de arrogância, pois não fora convidada como advogada, mas sim como membro do Governo e só nessa qualidade lá estava.
Um governante com o mínimo de respeito pela dignidade do cargo não age dessa forma. Infelizmente, o poder subiu-lhe à cabeça e fê-la perder todo o sentido de estado.
Enfim, um triste episódio que serviu para mostrar que a ministra da Justiça não possui as qualidades pessoais necessárias para exercer o cargo.
António Marinho Pinto
Expresso, 26-11-2011
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