Chegou do Tribunal para o almoço e repreendeu o filho mais novo, dizendo: «sobretudo nunca te esqueças de quem és filho» – isto porque, segundo Berta, o rapaz «andava na gandulagem com os da 'ilha'». Depois sentou-se à mesa e leu uma carta recebida do oficial Pereira. Este comunicava a sua transferência para o mesmo Tribunal em que o Prado servia. Berta disse: – «Era um pobre diabo». Madalena ajuntou: – «Mas muito prestável». Aquela disse ainda: – «Bebia bastante». O Prado negou, afirmando que não acreditava. Madalena disse que «cheirava». Berta carregou: – «Bastava olhar para a cara dele», ao que o homem ripostou com alguma secura: – «Não é uma prova séria. Acima de tudo, era um funcionário dedicado». E dirigindo-se ao filho mais velho: – «Andou contigo ao colo, muitas vezes». Depois recordou episódios ocorridos na Ilha e no fim disse: – «Estou velho; já lá vai um par de anos». A mulher observou que os anos não a apoquentavam, mas o «peso». Repetiu o que afirmava muitas vezes: que sempre desejara ser «magrinha» como a irmã. O Prado considerou que isso dependia da «natureza das pessoas». Ela atribuiu o facto aos partos sucessivos e comentou: – «Não fiz outra coisa, depois de casar contigo: filho fora, filho dentro. Ainda se tu ganhasses o suficiente». Ele não respondeu logo. Olhou de relance para os filhos e só depois se pronunciou: – «Deus assim o quis. Nunca devemos contrariar a sua vontade». Ela, com tristeza: «Chego a pensar que não olha para nós como merecemos». Ele, prontamente: «Não deves dizer isso». E levantou-se, dirigiu-se para a saída, abafou o pescoço no cachecol, pôs o chapéu na cabeça, tomou a pasta e saiu, para tomar o «eléctrico» até ao Jardim da Cordoaria.
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