terça-feira, 28 de dezembro de 2004

Liberdade de pensamento

O grande Voltaire censurou um dia Spinoza o seu «abuso da métafisica». Mas não é hoje, mais do que nunca, importante o incondicionalismo do métafisico? Numa época em que, através dos sistemas políticos, os constrangimentos sociais, os códigos morais e o politicamente correcto, exercemos muitas vezes uma auto censura involuntária sobre os nossos pensamentos, a liberdade ilimitada do pensamento não se tornou na maior e mais precisa das liberdades? Pois que hoje só com dificuldade é possível exercer a liberdade de pensar. Numa cultura mediática o que conta são os resultados; as tomadas de posição precisas. A via que permite desenvolver os pontos de vista, o pensamento necessário para os encontrar, para examinar e julgar a sua validade, é um processo que encontra cada vez menos consideração na opinião pública. No entanto, a liberdade de pensar é sempre a liberdade de cada pensamento se desenvolver autonomamente, por muito conveniente, provocante ou absurdo que ele pareça à primeira vista. O mundo do pensamento é livre pois que não se tem de conformar obrigatoriamente aos dados do real. Que um e um sejam sempre dois é uma evidência que não vale no mundo do pensamento verdadeiramente livre. Só a partir do momento em que se pense num espaço sem fronteiras em cujo seio as próprias categorias morais perdem a sua consistência, se têm a possibilidade de desenvolver ideias verdadeiramente novas.

Recolhido por Axel Brüggemann – «Welt am Sonntag»

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