terça-feira, 27 de novembro de 2012

Manifestação de hoje no Parlamento não vai ter reforço policial


Protestos arrancam à mesma hora da votação final global do Orçamento do Estado para 2013.
Ana Petronilho ana.petronilho@economico.pt
Ao mesmo tempo em que os deputados votam o Orçamento do Estado para 2013, que vai ditar um enorme aumento de impostos, vai decorrer mais uma manifestação da intersindical CGTP, a que se juntaram vários movimentos sociais, no largo do Parlamento.
Passadas duas semanas da greve geral e da manifestação que terminou numa violenta carga policial, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, prevê “uma grande adesão” ao protesto para o qual conta com a presença de “vários milhares de pessoas.”. Arménio Carlos, admitiu que devido aos confrontos com a polícia no dia 14 de Novembro dosquais resultaram nove detidos, 21 pessoas identificadas e 48 feridos – possa haver pessoas que acabem por hesitar em marcar presença no protesto. No entanto, o dirigente sindical acredita que a manifestação de hoje será pacífica.
Também a PSP considera não ser necessário “nenhum reforço extraordinário” das forças de segurança para a Assembleia da República e garante que “o policiamento será o necessário e adequado, semelhante ao das manifestações anteriores”, disse ao Diário Económico fonte oficial da Polícia de Segurança Pública. Questionada sobre o estado do pavimento que foi danificado, durante o último protesto, a mesma fonte da PSP, disse já ter sido “reparado pela Câmara com pedras da calçada”. Ou seja, para já, não foi atendido o pedido da PSP para substituir as pedras da calçada junto às escadarias da AR por outro material.
O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, não vê “nenhum problema” com a manifestação de hoje e considera que os protestos “não são um problema de segurança interna”, mas sim “um exercício de cidadania”. O governante lembrou, ainda, que os acontecimentos do passado dia 14 de Novembro se traduziram numa “manifestação que, a certa altura, degenerou num problema de ordem pública”.
A somar à CGTP para engrossar o grupo de manifestantes marca hoje, também, presença à porta do Parlamento a Confederação Nacional da Agricultura paramostrar que rejeita as “más perspectivas orçamentais” da União Europeia para a agricultura nacional -, o sindicato dos Estivadores do Centro e Sul (que voltam às escadaria do Parlamento quinta-feira). Já o Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL) assiste à votação final global do OE/13 das galerias da Assembleia da República. Além dos agricultores e dos estivadores há outros movimentos e associações activistas que se manifestam contra as políticas do Governo.
Recorde-se que a CGTP agendou para o próximo mês mais duas manifestações: dia 8 de Dezembro no Porto e dia 15 em Lisboa.
‘Gaspar não deve exagerar na austeridade’
PAUL DE GRAUWE Deputado no parlamento da Bélgica e professor na London School of Economics
O economista belga Paul De Grauwe aconselhou o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a “não exagerar” na austeridade, para evitar um “ciclo vicioso” de recessão e endividamento. “Diria ao meu amigo [Vítor] Gaspar para não exagerar” na austeridade, disse De Grauwe, antigo deputado no Parlamento belga e professor na London School of Economics, na conferência Portugal em Mudança do Instituto de Ciências Sociais (ICS). “0 que temo é que o Governo português, no seu zelo de austeridade, vá longe demais, e crie o risco de a economia portuguesa ser empurrada para um ciclo vicioso onde não consegue reduzir a dívida”, disse. “0 PIB cai mais depressa que a dívida. Os analistas olham para isto e vêem as coisas a ficar pior”. Perante este ciclo vicioso, alerta De Grauwe, a dívida continuará a aumentar de forma insustentável: “A austeridade excessiva levará Portugal para a insolvência”. “Portugal é solvente, creio eu, mas pode ser empurrado para a insolvência pelos mercados financeiros”. Troika’ dá cobertura a um OE/13 de “ficção científica’
MANUELA ARCANJO
Economista, exsecretária de Estado do Orçamento e exministra da Saúde
A economista Manuela Arcanjo criticou a ‘troika’ por dar cobertura ao Governo no Orçamento do Estado para 2013, classificando-o de “ficção científica”. A ex-secretária de Estado do Orçamento e ex-ministra da Saúde de governos socialistas disse num colóquio do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) sobre o OE/13 que “não há qualquer Orçamento que resista quando faz parte de um cenário de ficção científica” e acrescentou que Portugal “vive neste registo porque os negociadores não conhecem a realidade portuguesa”. “Vivemos num país de faz de conta”, disse. A ex-governante adiantou, em termos irónicos, que o OE/13 tem três objectivos: “Pagar impostos, fazer o menor consumo possível e idealmente as pessoas morrerem antes que o Estado comece a pagar a pensão”. Para Arcanjo o OE/13 “é mau, não vai ter uma boa execução, e tem uma bomba atómica, que são as dívidas do Sector Empresarial do Estado e das empresas municipais”.
Diário Económico, 27 Novembro 2012

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