segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Orientação da PGR para inserção de perfis de ADN dará "grande empurrão" a base de dados
Segurança Destruição de perfis de ADN pode deixar dois mil criminosos impunes
Há
mais de dois mil vestígios com perfis de ADN de suspeitos de crimes graves que
correm o risco de terem de ser destruídos por estarem guardados “ilegalmente”
na Polícia Judiciária (PJ), revela esta segunda-feira o Diário de Notícias
(DN). Os vestígios recolhidos nos locais dos crimes deviam ter sido
transferidos para uma base de dados de ADN, mas isso não foi feito e agora
dezenas de criminosos podem ficar impunes.
O
presidente do Conselho de Fiscalização da Base de Dados de Perfis de ADN, o
juiz jubilado Manuel Simas Santos, alerta hoje, em declarações ao DN, que se
até 19 de Março, quando termina o seu mandato, não for eleita no Parlamento uma
nova equipa para o órgão, não só os perfis que estão na PJ “devem ser
eliminados” como “a actividade da base de dados oficial tem de ser suspensa”.
Em
causa estão mais de dois mil vestígios com perfis de ADN de suspeitos de crimes
graves que estão de forma “ilegal” na PJ porque o anterior procurador-geral da
República, Pinto Monteiro, deu ordem para esses ficheiros serem transferidos
para a base de dados, a “única oficial do País”, e isso ainda não foi feito.
Conta
o DN, que dezenas de criminosos podem ficar impunes, caso os vestígios,
recolhidos entre 2002 e 2007, em cenas de crimes de que ainda não existem
suspeitos, sejam destruídos antes de serem cruzados com os perfis de condenados
que já estão na base de dados.
O
juiz jubilado Manuel Simas Santos sublinha que se pode evitar esta destruição
se “os grupos parlamentares iniciarem de imediato o processo para a eleição dos
membros do novo Conselho”.
Notícias
ao minuto, 18-02-2013
Assembleia da República
· Lei n.º 17/2013: Terceira alteração à Lei n.º 9/91, de 9 de abril (Estatuto do Provedor de Justiça)
· Lei n.º 18/2013: Autoriza o Governo a aprovar os princípios e regras gerais aplicáveis ao setor público empresarial, incluindo as bases gerais do estatuto das empresas públicas, bem como a alterar os regimes jurídicos do setor empresarial do Estado e das empresas públicas e a complementar o regime jurídico da atividade empresarial local e das participações locais
· Lei n.º 18/2013: Autoriza o Governo a aprovar os princípios e regras gerais aplicáveis ao setor público empresarial, incluindo as bases gerais do estatuto das empresas públicas, bem como a alterar os regimes jurídicos do setor empresarial do Estado e das empresas públicas e a complementar o regime jurídico da atividade empresarial local e das participações locais
Investigação e autonomia
Espanha é um dos poucos países da Europa onde ainda são os juízes
que dirigem a investigação criminal. Tal sistema também existia em Portugal,
mas foi abandonado porque juntava na mesma instituição as funções de acusar e
de julgar e porque essa institui ção não
podia ter a estrutura hierarquizada necessária a um trabalho coordenado de
combate ao crime mais complexo.
Por: Rui Cardoso, Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público
Por: Rui Cardoso, Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público
Foi o
Ministério Público que assumiu tais funções. Mas, para que tal pudesse ter
sucedido, foi necessário garantir-lhe um estatuto de autonomia face aos demais
órgãos do poder, mas também autonomia dos seus magistrados, para que, em cada
momento, pudessem actuar com isenção e objectividade, obedecendo apenas à lei.
Assim se impediu queo poder político controlasse a investigação criminal.
O governo espanhol quer esse controlo: quer mudar a lei para que
seja o Ministério Público a investigar, mas quer mantê-lo na sua dependência.
Cá, há muito que alguns anseiam por esse sistema.
(Texto escrito com a antiga
grafia)
Direito à habitação não é "imediato e absoluto", defende tribunal
O Tribunal Central
Administrativo Sul (TCAS) defende que o direito à habitação previsto na
Constituição não é um direito "imediato e absoluto", antes tem
"natureza programática, que o Estado deve tentar promover".
Em acórdão a que a Lusa hoje teve acesso, referente a um processo
de demolição de barracas em Cascais, o TCAS sublinha que é "óbvio"
que "não se trata de um direito imediato e absoluto a uma prestação
efectiva dos poderes públicos".
"Possui natureza programática, que o Estado deve tentar
promover, mediante construção de habitações sociais e económicas, estimulando a
construção privada e o acesso à habitação própria ou arrendada", refere o
acórdão.
Acrescenta que o Estado e as
autarquias locais "devem, à luz deste princípio, atribuir uma habitação ao
cidadão carenciado, mas, infelizmente, nem sempre tal é possível, ao que
sabemos, em parte alguma do mundo, apenas se tendo verificado iniciativas
graduais e insuficientes".
Em causa está a intenção da
Câmara de Cascais de demolir cinco barracas, na sequência de uma decisão tomada
em Setembro de 2004 mas contestada pelos respectivos moradores, que, entre
outros argumentos, invocaram o direito à habitação.
O Tribunal Administrativo de
Sintra deu razão à Câmara, uma decisão agora confirmada pelo TCAS.
2000 perfis de ADN relativos a crimes em risco de destruição
PGR ordenou que
vestígios de ADN em poder da Judiciária fossem entregues à base de dados criada
para os reunir. Como a comissão de fiscalização que deveria supervisionar esse
procedimento está demissionária, essas provas poderão ter de ser eliminadas.
Este é um dos assuntos hoje em destaque na edição do DN.
Diário de Notícias, 18-02-2013
A máquina do nosso ADN
Há em Portugal uma base de dados para reunir perfis de ADN recolhidos em
locais de crime ou em criminosos. Não há nas suas entranhas de silicone
praticamente nenhumas amostras de ADN. Mas há a base de dados. E enquanto ela
não cumpre o fim a que se destina, todo aquele aparato vai servindo para
revelar o perfil de um outro ADN, o de Portugal, país procrastinador, onde se
fazem investimentos que, mal vêm ao mundo, são abandonados à sua sorte.
Esta base de dados de ADN - é sobre ela que escrevemos agora - nasceu no
papel há meia dezena de anos (a 12 de fevereiro de 2008) e foi formalmente
inaugurada há três (a 12 de fevereiro de 2010). E, desde aí... nada.
A falta de uma lei orgânica e de vontade tem deixado este sistema no mesmo
limbo onde vegetam outros investimentos, também eles anunciados a seu tempo com
orgulho, como o banco público de células estaminais ou a futurista rede de
carregamento de carros elétricos. Ambos anunciados, criados e abandonados tão
depressa que nem tivemos tempo para nos apercebermos de que tinham vindo ao
mundo. Hoje, sumidos, é como se não tivessem vindo.
O que está a emperrar a base de dados é a falta de estratégia e de
capacidade de concretização. Há cinco anos nasceu o projeto, há três ele abriu
as portas e, desde então, não se conseguiu produzir uma lei nem criar o hábito
de encaminhar para lá as amostras que era suposto lá estarem. Por isso, não
funciona.
Assim, mais uma vez, o que aqueles maquinismos revelam é a dupla hélice da
portugalidade. Como diz o verso redigido por um conhecido cantor: "Lembra
um sonho lindo, quase acabado."
Nós e a 'troika'
António José Seguro disse-o sempre: Portugal precisa de mais tempo para ser
bem sucedido no seu programa de ajustamento. O líder socialista só nunca se
tinha comprometido politicamente com a ideia de revisão/renegociação do
memorando assinado com a troika.
Agora, estando Seguro a meio de um processo eleitoral interno que há de,
tudo o indica, legitimá-lo como candidato do PS a primeiro-ministro, começa a
falar mais grosso aos credores. Nas cartas que enviou aos responsáveis
políticos máximos do FMI, BCE e CE, o líder do PS exige que os técnicos da
troika sejam substituídos por gente com mandato político para tomar decisões.
Tem razão Seguro quando diz que o que está em causa na sexta avaliação com o
corte de 4 mil milhões é política e não tecnocracia. Do que se trata é de saber
se o ajustamento se faz mais depressa, isto é, com mais dor ou mais devagar,
isto é, com menos violência para os cidadãos. E esta decisão é, obviamente,
política.
Passos Coelho já disse que o Governo não vai partir a corda que está
esticada. Mas o que a troika tem de perceber é que esta já se partiu para
muitas famílias e para o gigantesco exército de desempregados que a receita de
austeridade já fez pelo caminho. E por isso é que, em nome do interesse
nacional, Lagarde, Draghi e Barroso têm de ser "obrigados" a vir a
jogo.
Diário de Norícias, 18-02-2013
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