segunda-feira, 24 de julho de 2023

<>Ainda sobre as mensagens subliminais

Ricardo Cabral 

24 de Julho de 2014, 19:47

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Numa coluna anterior referi que outras culturas adoptam estratégias diferentes (individuais e colectivas) e, noutra coluna, analisei uma frase atribuída a Abraham Lincoln que, argumentei, sugere que existem conspirações recorrentes.

Nem a propósito, foiFT Publicidade Argentina publicada no Financial Times de 16 de julho, p.5, uma página inteira de publicidade – ou seja, muito dispendiosa -, que se reproduz ao lado, da auto-designada “America Task Force Argentina”, que critica a forma como a Argentina está a negociar com os credores que não aceitaram reestruturar a dívida e conclui que a Argentina irá novamente entrar em incumprimento.

Esta é uma das estratégias utilizadas por grupos de interesse nos EUA para passarem as suas mensagens. São feitas no nome de associações cuja designação parece inofensiva e simpática, mas, por detrás das quais, poderão estar interesses económicos – no caso concreto, provavelmente, escondem-se os chamados “fundos abutre” que têm ganho acções na justiça americana contra a Argentina.

Mas tal prática é aceite e muito utilizada nos EUA!

<>Policromia tributária

António Bagão Félix 

24 de Julho de 2014, 13:38

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Há pouco tempo, foi apresentado um relatório sobre o que se convencionou chamar “fiscalidade verde”. Ora aí está mais uma “opção” para o sujeito passivo (aqui sem aspas). Já tínhamos a fiscalidade prateada que o programa austeritário formatou para os velhos e reformados, encabeçada pela chamada CES. Tudo isto se junta ao grande cabaz fiscal, ora laranja, ora rosa. Há ainda os impostos por conta do BPN, swaps e outras “imparidades”, a que poderíamos chamar fiscalidade da cor do burro quando foge (ainda que aqui a popular expressão “burro” não seja propriamente a que se deveria aplicar…). Seja qual for a cor da fiscalidade, nenhuma escapa ao daltonismo subjacente a tantos impostos, contribuições e taxas que, como se constata na execução orçamental, não resolvem o problema do défice público… Mas que nos faz, não raro, mudar de cor, ficando vermelhos ou mesmo roxos de fúria. E para o que nem o livro amarelo das reclamações nos vale para pôr o preto no branco.

<>Espírito Santo: a casta que tem governado Portugal

Francisco Louçã 

24 de Julho de 2014, 11:30

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BES governo

Ocarinhosamente chamado “Dono Disto Tudo”, Ricardo Espírito Santo Salgado, foi hoje detido no âmbito de um processo velho de três anos, Monte Branco. A justiça, lenta como ela só, decidiu a detenção e interrogatório quando Salgado deixou de ser presidente do BES.

Da justiça dirá a justiça, se alguma vez disser alguma coisa. O processo Furacão começou em 2005 – há nove anos – e foi terminando como se sabe. O BES foi questionado e tudo ficou na mesma. O processo Monte Branco começou em 2012, investigando eventuais crimes desde 2006 – há oito anos – e deu logo origem a uma retificação do IRS de Salgado, que se teria esquecido de registar uma prenda de 8 milhões (um livro recente alega que teriam sido 14 milhões). O Banco de Portugal achou a notícia trivial e irrelevante.

Mas da rede de influência do “Dono Disto Tudo” podemos dizer nós, porque factos não esperam pela justiça. Na infografia aqui ao lado, que foi publicado pelo Expresso (clique na imagem para ampliar) a partir do livro que escrevi com Teixeira Lopes e Jorge Costa (“Os Burgueses”, Bertrand, 2014, e respectiva base de dados, com investigação de Adriano Campos e Nuno Moniz), registam-se os governantes que foram para o BES ou que vieram do BES, ocupando posições de relevo no banco ou nas suas principais empresas. Não são todos: depois de o livro ser publicado, Jaime Gama tornou-se o presidente do BES Açores, e escapam a este critério distintos (ex)consultores do banco, como Durão Barroso.

Mas o retrato é claro: isto é o regime político português, com figuras destacadíssimas do PS e PSD, com ministros do atual governo (por exemplo, Machete foi ministro, foi para o BES, voltou a ser ministro) e com ex-governantes e empresários de brilhantes carreiras. Considerando só os casos mais relevantes, temos cinco administradores do BES que foram para o governo (e depois não voltaram ao BES), treze que foram do governo para funções de direção no BES e cinco que foram do governo para o BES e voltaram ao governo (Silveira Godinho, Martins Adegas, Rui Machete, Miguel Frasquilho e Manuel Pinho). É preciso voltar ao tempo de Lourdes Pintasilgo para encontrar um governo sem BES.

Este é o retrato da casta que governa e ele era mesmo o Dono Disto Tudo.

<>O princípio gueixa

Francisco Louçã 

24 de Julho de 2014, 09:00

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gueixa

Dizia João Cravinho, na apresentação do seu excelente livro (“A Dívida Pública Portuguesa”, ed. Lua de Papel), que há muito quem siga o princípio gueixa: perante o samurai que tem o poder, a gueixa pensa que basta pintar a cara de branco e os lábios de grená, usar um quimono e fazer umas vénias, e tudo correrá bem.

Dizia a semana passada o representante do FMI em Portugal a uma assembleia de economistas: afinal a dívida é mesmo insustentável e é preciso reescaloná-la ou reestruturá-la.

Os samurais estão fartos de gueixas ou já não podem ver as suas próprias pinturas de guerra?