06 de Novembro de 2012 | Por Lusa
O jurista Laborinho
Lúcio, ministro da Justiça nos governos cavaquistas, alertou esta terça-feira
para a redução da "capacidade e da qualidade de intervenção" do
sistema judiciário com os cortes constantes na proposta do Orçamento do Estado
para 2013.
O
ministro da Justiça nos XI e XII Governos Constitucionais, de 1987 a 1995,
salientou que o corte previsto de 500 milhões de euros no próximo ano nos
ministérios da Justiça, Defesa e Administração Interna "obriga à definição
de programas" e notou que "existem limites".
"A
questão está em saber quais são as alternativas", disse o jurista, que
recupera no seu livro 40 anos de memórias e reflexões na sua carreira como
magistrado e também como governante.
Laborinho
Lúcio revelou preocupação pelo aumento do crime organizado em Portugal nos
últimos anos e sublinhou que confia que "os limites a respeitar
necessariamente para garantir os objectivos fundamentais que se procuram na
administração da Justiça sejam garantidos e salvaguardados" com a redução
dos recursos financeiros.
"Evidentemente
que tudo que seja um corte numa área de intervenção aprofundada e com
necessidade de algum investimento obriga à definição de programas de curto e de
curtíssimo prazo de conjuntura, mas o importante é que esses programas não
sejam desligados de uma visão estratégica global para serem coerentes com essa
visão estratégica. Algumas dificuldades podem atrasar um pouco aquilo que seria
a planificação e e depois a execução", afirmou.
Defendendo
que a Justiça "precisa de um debate aprofundado", Laborinho Lúcio,
que também advogou a necessidade de se proceder uma revisão constitucional, fez
referência ao combate ao crime económico e declarou que, "tanto nessa área
como nas restantes, a resposta terá necessariamente de ser a mesma".
"Evidentemente
que quanto maior forem as condições, maior é a capacidade de intervenção.
Havendo menos condições, é necessário adequar a possibilidade de intervenção
nessas condições, sem nunca pôr em causa os limites exigíveis para garantir a
Justiça e a segurança", reforçou.
Jorge
Sampaio, que recusou abordar política nacional após a apresentação do livro de
Laborinho Lúcio, referiu, na apresentação, que "a governação não tem
olhado para a Justiça nos últimos 30 anos" e manifestou preocupação pelo
facto de "o economicismo" estar "a chegar à Justiça".
Declarando
que "o ministro [da Justiça] é agora um político", o antigo
Presidente da República assinalou que "discutir hoje a Justiça é,
simultaneamente, discutir a política".
Na
apresentação do livro 'Julgamento - Uma Narrativa Crítica da
Justiça"'estiveram presentes personalidades ligadas à política, à Justiça
e à cultura, como Ramalho Eanes, Mota Amaral, Fernando Nogueira, Joana Marques
Vidal, Cunha Rodrigues, Souto Moura, Luís Vaz Neves, Vasco Graça Moura, Rui
Rangel, Lídia Jorge e António pedro Vasconcelos, entre outros.