No mercado secundário, os juros das obrigações
do Tesouro a cinco anos fecharam acima de 5% e a dez anos em 6,13%. São mais
elevados do que há uma semana. Fitch fala de "linha
preventiva de crédito" após conclusão do plano de resgate português.
Irlanda já admitiu interesse nessa solução.
Jorge Nascimento Rodrigues
yields das
obrigações do Tesouro (OT) ainda não baixaram.
Recorde-se que esta emissão sindicada
consistiu numa reabertura da linha de obrigações do Tesouro que vence em
outubro de 2017. O IGCP colocou 2,5 mil milhões de euros com uma yield de 4,891%.
As yields das obrigações do Tesouro (OT) fecharam
hoje, de novo, em alta. Particular atenção tem sido dada às OT com maturidades
a cinco e a dez anos, segundo dados da Bloomberg. As yields das OT a 10 anos fecharam em 6,130%, de
pois de terem aberto em 5,982% e de terem fechado ontem em 6%. Há uma semana
tinham fechado em 6,12%. No caso das yields das OT a cinco anos fecharam hoje
em 5,087%, depois de terem aberto em 4,931% e de ontem terem fechado em 4,982%.
Há uma semana tinham fechado em 5,03%.
Na maturidade a sete anos, que se aproxima
do prazo médio residual da dívida portuguesa (que está em 6,9 anos), as yields fecharam hoje em 5,838%, ligeiramente
abaixo do fecho há uma semana atrás (5,849%). Uma ligeira melhoria, neste caso.
O prémio de risco - que mede o diferencial
entre as yields das OT e dos Bunds (títulos alemães) a dez anos - subiu hoje
para 4,49 pontos percentuais, mas, mesmo assim, abaixo do valor de há uma
semana atrás, quando fechou em 4,57. Em termos comparativos, o prémio de risco
da dívida espanhola fechou em 3,54 pontos percentuais e para a dívida italiana
em 2,49.
Hoje, a probabilidade de incumprimento da
dívida soberana num horizonte de cinco anos diminui em relação ao fecho nos
dois dias anteriores e se comparada com uma semana atrás. O risco fechou em
28,49%, quando há uma semana havia fechado em 28,73%, segundo dados da CMA
DataVision. Apesar da ligeira melhoria ao longo da semana, a posição portuguesa
continua a mesma no grupo dos 10 países com maior risco de incumprimento -
permanece no 8º lugar.
Ambiente de "contágio positivo"
permanece
A "International Financing
Review" referiu ontem que as diferenças de interesse dos hedge funds (fundos de alto risco) nas operações
sindicadas de dívida de Portugal (a cinco anos) e de Espanha (a dez anos) desta
semana podem refletir-se na evolução da performance no mercado secundário. No
caso português, os hedge funds desempenharam um papel significativo, com
24% da distribuição das obrigações, enquanto em Espanha a sua participação foi
apenas de 4% na operação sindicada desta semana.
Os analistas internacionais são unânimes
em que Portugal, Irlanda, Espanha e Itália têm beneficiado do ambiente de
"contágio positivo" de que falou o presidente do Banco Central
Europeu, Mário Draghi, na primeira reunião do ano do seu conselho diretor, uma
ideia que o italiano repetiu hoje no World Economic Forum em Davos. Os quatro
países "periféricos" têm aproveitado as "janelas de
mercado" no mercado primário para operações de troca ou emissões sindicadas
em obrigações, ou mesmo leilões de dívida de médio e longo prazo (no caso de
Espanha e Itália).
Os fatores de incerteza mais imediatos na
zona euro têm sido sublinhados: previsão de recessão em 2013 da zona euro com
uma conjugação de programas de austeridade em diversos países membros; eleições
com desfecho incerto neste primeiro trimestre em membros da zona euro
(presidenciais no Chipre a 17 de fevereiro e de Itália em 24 de fevereiro) e
situação muito frágil em Espanha (crise entre Madrid e Barcelona que aprovou
uma Declaração Soberanista sobre a Catalunha, o desenvolvimento do escândalo
Bárcenas afetando o PP, e a situação de desemprego juvenil), bem como o
"risco político" em Portugal, no dizer da Fitch.
Fitch e Irlanda falam de "linha
preventiva de crédito"
A agência de notação Fitch decidiu manter
o rating de dívida especulativa (BB+) à dívida da
República Portuguesa, apesar da operação sindicada de dívida desta semana, tal
como já o havia feito em outubro do ano passado aquando da operação parcial de
troca com as OT que vencem em setembro deste ano para OT a vencer em outubro de
2015.
A Fitch referiu como desafios as enormes
necessidades de financiamento da dívida de médio e longo prazo (com picos em
2014 e 2016, como já foi referido pelo ministro Vitor Gaspar), o custo ainda
elevado de financiamento que considera "insustentável", o risco
político que "permanece significativo" e o comportamento global da
economia portuguesa (previsão de dois anos consecutivos de recessão em 2012 e
2013 e dúvidas sobre 2014).
O que leva a agência de notação a falar da
necessidade de um novo programa após a conclusão do atual plano de resgate.
Provavelmente em novos moldes, adiantando o modelo de uma eventual linha
preventiva de crédito (com mais "condicionalidades" anexas) complementada
pela concretização do programa OMT (compra ilimitada de dívida obrigacionista
no mercado secundário com inclinação para os prazos mais curtos) do Banco
Central Europeu (BCE), que, até à data, tem sido apenas comunicação verbal.
John Corrigan, responsável pela National
Treasury Management Agency (NTMA), a agência equivalente ao IGCP português,
admitiu ontem uma abordagem similar, após a conclusão do programa da troika. Até lá, a agência irlandesa já
referiu que avançará com o lançamento de leilões de dívida a 9 anos para
perfazer os 10 mil milhões de euros do seu plano de financiamento da dívida
para 2013, e para concretizar um regresso total ao mercado primário de dívida
obrigacionista.
Expresso on line, 25-01-2013
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