Carlos Tomás
Portugal está em 33°
lugar no índice de Percepção da Corrupção de 2012, que engloba 176 países, mas
surge numa “posição dramática” a nível europeu.
Segundo dados revelados
esta semana, no ranking do índice de Percepção da Corrupção da ‘Transparency
International’, Portugal apresenta uma classificação de 63, numa escala de 0 a
100, que vai de muito corrupto a muito limpo. Na mesma posição encontram-se Butão
e Porto Rico. O quando piora quando se faz uma análise aos países da União
Europeia (UE), onde Portugal surge em 15° lugar, tendo abaixo apenas alguns
países de leste, Grécia, Itália e Malta.
“Portugal só tem atrás
de si Malta, que é um pequeno país, Grécia, que me abstenho de comentar,
Itália, que ainda tem predominância muito forte de influência da máfia sobre
serviços públicos e alguns países de leste, e nem todos. O panorama é
desastroso”, garantiu Paulo Morais, vice-presidente da TIAC e um dos responsáveis
pela revisão da metodologia do índice da corrupção deste ano.
É precisamente esta
ligeira alteração de metodologia em relação aos índices dos anos anteriores que
não permite fazer uma comparação da classificação obtida e da posição assumida
pelos países.
Contudo, o investigador
lembra que Portugal desceu quase 10 lugares no índice de Percepção de Corrupção
na última década: passou da 23.ª posição em 2000 para a 32.ª em 2011.
Baixo crescimento
O vice-presidente da
TIAC lembrou ainda que “há uma forte relação” entre o nível de desenvolvimento
dos países e a corrupção, concluindo que os dados de Portugal permitem perceber
que o potencial de crescimento económico é “muito baixo”.
Aliás, os
investigadores que elaboraram o índice constataram um “baixo desempenho” comum
aos países da zona euro mais afectados pela crise financeira e económica.
Numa análise a todos os
176 países classificados, a Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia surgem em
primeiro lugar, todos com uma classificação de 90 (quando a pontuação máxima é
de 100).
No fim da lista, com
piores pontuações, estão a Somália, Coreia do Norte e Afeganistão (com 8
pontos).
Lusofonia
Entre os países de
língua portuguesa, Cabo Verde surge em 39° lugar, o Brasil na 69a posição e São
Tomé e Príncipe na 72ª. Já abaixo do
meio da tabela, Timor-Leste está na posição 113,
Moçambique na 123, a Guiné-Bissau na 150 e Angola sete lugares abaixo, no
número 157 do ranking, com 22 pontos.
Paulo Morais considera
que este índice mostra que “a corrupção domina o mundo”, com mais de metade dos
países a obter um ‘score’ inferior a 50 numa escala de 0 a 100.
Preencher papéis
Portugal é o país da
zona Euro onde se demoram mais horas a cumprir as obrigações e burocracias
fiscais. De acordo com o estudo “Paying Taxes – 2013″ da
PriceWaterhouseCoopers, publicado este mês, as empresas em Portugal demoram
cerca de 275 horas a preparar e juntar informação necessária para pagarem os
seus impostos, sendo o país da zona euro onde esta tarefa demora mais tempo e
acima da média total dos países analisados (267 horas).
Relativamente ao
indicador “Taxa de Imposto Total”, que representa o conjunto de impostos a
pagar por uma empresa, Portugal surge a meio da tabela com um valor de 42,6%.
Na zona euro, a Itália é o país com o valor mais alto (68,3%). Por seu lado,
Espanha surge atrás de Portugal com um valor de 38,7%. Conforme informação
disponível no estudo, a taxa de imposto total tem vindo a recuar nos últimos anos,
ficando abaixo da última edição (43,3%) e abaixo da média dos 185 países
considerados (44,7%). No entanto, os valores utilizados para realizar os
cálculos dizem respeito a 2011 devido a ser o ano mais recente fechado em
termos fiscais. Assim, é de esperar que as próximas edições anuais deste estudo
agravem este indicador para Portugal, devido às medidas de austeridade.
Da taxa total de
tributação de 42,6% em Portugal, 14,5% respeita ao imposto sobre o lucro das
empresas e 28,1% a impostos e contribuições sobre remunerações. 1,3% dizem
respeito a outros impostos não diferenciados, onde está incluído o IVA.
Juiz quer lista negra
Para o presidente da
Associação Sindical de Juizes, Mouraz Lopes, algumas decisões dos tribunais não
terão ajudado a esta perceção. Nesse sentido, Mouraz Lopes sugere algumas
medidas que poderão ajudar a reduzir o problema da corrupção, tais como «a
aplicação de códigos de conduta ética nas empresas», e «a criação de listas
negras de algumas empresas que funcionam à margem da sociedade».
Na opinião do juiz,
também «os miúdos, nas escolas, têm que começar a perceber que vivem numa
sociedade democrática, que tem um conjunto de valores que devem ser seguidos.
Não se pode valorizar a cultura do ‘chico-espertismo’, onde sabem que há sempre
alguém que dá um jeitinho. E isto que tem de acabar», defendeu.
O índice de Percepção
da Corrupção é composto por índices de corrupção de entidades internacionais
consideradas credíveis, como os do Banco Mundial.
Parlamento é “centro de
corrupção”
Paulo Morais,
responsável da associação cívica Transparência e Integridade (TIAC), garante
que “o centro de corrupção em Portugal tem sido a Assembleia da República, pela
presença de deputados que são, simultaneamente, administradores de empresas”
“Dos 230 deputados, 30
por cento são administradores ou gestores de empresas que têm diretamente
negócios com o Estado”, denunciou. Para o professor universitário, o parlamento
português “parece mais um verdadeiro escritório de representações, com membros
da comissão de obras públicas que trabalham para construtores e da comissão de
saúde que trabalham para laboratórios médicos.
Paulo Morais acusou os políticos de criarem
“legislação perfeitamente impercetível”, com “muitas regras para ninguém
perceber nada, muitas excepções para beneficiar os amigos e um ilimitado poder
discricionário a quem aplica a lei”.
“A legislação vem dos
grandes escritórios de advogados, principalmente de Lisboa, que também ganham
dinheiro com os pareceres que lhes pedem para interpretar essas mesmas leis e
ainda ganham a vender às empresas os alçapões que deixaram na lei”, criticou.
Para o responsável da
organização não governamental Transparência Internacional em Portugal, “os
deputados estão ao serviço de quem os financiou e não de quem os elegeu”, sendo
a lei do financiamento dos partidos “a lei que mais envergonha Portugal”.
O Crime, 6 Dezembro 2012
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