Público
- 29/03/2013 - 00:00
Os
deputados sociais-democratas utilizaram a prestação televisiva de José Sócrates
como fait-divers para disfarçar a tensão que abala a
maioria. A propósito de Chipre, o CDS volta a demarcar-se de Vítor Gaspar
Adivinhava-se
um debate quente, marcado pelos estilhaços da entrevista do
ex-primeiro-ministro, José Sócrates. As expectativas não saíram defraudadas.
Contudo, a bancada do PSD tinha um alvo principal: os juízes do Palácio Ratton,
a sede do Tribunal Constitucional (TC), que está a avaliar a
constitucionalidade do Orçamento do Estado (OE) deste ano. Os
sociais-democratas aconselharam os juízes do TC a avaliar o OE, tendo em
consideração o "contexto económico e financeiro, assim como o programa
aplicado da Portugal, o direito nacional e europeu". "Nós entendemos
que o Tribunal Constitucional deve avaliar este Orçamento tal como nós o
elaborámos e aprovámos nesta câmara: tendo em consideração o contexto
económico, o contexto financeiro, o memorando de entendimento, o direito
europeu, o direito nacional", declarou Teresa Leal Coelho, vice-presidente
da bancada do PSD, aproveitando para acusar a oposição de desvalorizar a
situação do país.
"Parece que se esquecem que um dia podemos não ter dinheiro
para pagar salários e pensões, parece que se esquecem que nós hoje não temos
condições financeiras de sustentabilidade de um Estado que tem cerca de dois
cidadãos activos por cada pensionista ou reformado", pressionou.
O líder parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares, desafiou
Teresa Leal Coelho a demarcar-se das declarações que o primeiro-ministro fez
anteontem, no Porto, sobre a responsabilidade do TC, que classificou como uma
pressão. O deputado João Oliveira, do PCP, carregou nas tintas, acusando o
primeiro-ministro de procurar "chantagear e pressionar o Tribunal
Constitucional" como "nunca tinha acontecido em Portugal depois do 25
de Abril", acrescentando: "Senhora deputada Teresa Leal Coelho, se o
Tribunal Constitucional reconhecer inconstitucionalidades no Orçamento do
Estado, a responsabilidade é do Governo que propôs o Orçamento e é vossa, do PSD
e do CDS, que o aprovaram".
O contra-ataque do PSD foi... Sócrates. O primeiro a abrir as
hostilidades foi o deputado do PSD Luís Campos Ferreira, que insinuou que o PS
"teve vergonha" do "grande momento de teatro" protagonizado
por Sócrates na televisão"."Sou levado a crer que o PS teve vergonha
daquilo que Sócrates disse na televisão", afirmou.
"O que o país inteiro estava à espera de ouvir era o que o
PS de hoje, de António José Seguro, pensa da narrativa de ontem [anteontem] de
José Sócrates", desafiou Campos Ferreira, referindo-se à entrevista do
antigo primeiro-ministro. Cavalgando a onda, questionou o deputado socialista,
António Braga, se concordava com o que Sócrates afirmara sobre o Presidente da
República, já que o ex-primeiro-ministro acusara Cavaco Silva de ter sido
"a mão por trás do arbusto da crise política" que acabou com a
demissão do Executivo minoritário socialista.
E num tom provocatório, questionou: "Afinal, qual é o PS
que temos? É o da moção de censura? O da narrativa teatral? Ou o que escreve àtroika e que diz que cumprirá até ao último
centavo?"
António Braga saiu em defesa do ex-líder. "O PS é um
partido do povo, com história e património e convive perfeitamente com
eles". "Como o seu partido convive mal com os seus ex-líderes, acha
que no PS acontece o mesmo. José Sócrates apareceu em grande forma ontem
[anteontem] na televisão, tal como Mário Soares está em grande forma, como um
grande senador da República", respondeu António Braga.
O tema do CDS foi a situação em Chipre. Cecília Meireles disse
que a situação que se vive naquele país é preocupante e deve merecer "uma
reflexão profunda", acusando o Governo de apoiar "decisões
irresponsáveis" dos líderes europeus. Numa declaração política no
Parlamento, a deputada do CDS defendeu que o que se está a passar e "virá
a acontecer na zona euro" tem de ser analisado sem "demagogias e
análises imediatistas". O deputado do PCP Honório Novo instou Cecília
Meireles a não invocar "em falso fantasmas do seu imaginário", até porque
as decisões sobre Chipre pertencem "àqueles que são os principais
representantes do neoliberalismo europeu mais extremista e fundamentalista, na
qual se insere o Governo". João Galamba juntou-se ao debate, apontando o
caso de Chipre como "a marca da profunda irresponsabilidade da União
Europeia na resposta à crise" e afirmou que garantia de
"solvabilidade dos bancos que seria dada pela Europa" com a união
bancária "morreu com Chipre". Galamba questionou o "papel do
Governo nesta decisão" e desafiou o CDS a pronunciar-se sobre a posição do
ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que disse estar em linha com a do
Eurogrupo.
Já o BE trouxe a debate o aumento de 25% dos custos da
electricidade registado no último ano e meio, assinalando que se trata da
segunda maior subida por preço da luz da Europa. Numa declaração política no
plenário, Ana Drago falou da questão das rendas excessivas garantidas ao sector
da energia, lembrando que quando PSD e CDS-PP chegaram ao Governo garantiram ir
combatê-las.
Já em clima de consenso, a Assembleia da República aprovou, por
unanimidade, dois votos de pesar pelas mortes dos comunistas Óscar Lopes e João
Honrado, falecidos recentemente.
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