Qualquer pessoa pode criar uma petição online e é
quase impossível verificar a veracidade das assinaturas. Em Portugal ainda são
encaradas com desconfiança, mas plataformas como a Avaaz começam a ter muita
força no mundo anglo-saxónico - e a dar resultados
Quando o abate do cão Zico foi suspenso, muitas
pessoas pensaram que a petição online a favor do animal tinha resultado. Mas
não é bem assim. O animal envolvido na morte de uma criança de 18 meses não foi
abatido porque a Associação Animal - uma das promotoras da petição - interpôs
uma providência cautelar no Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja.
A petição apenas recebeu mais atenção mediática do
que muitas outras porque, em Portugal, estas ferramentas não têm tanta
influência como noutros países. "É uma forma de pressão e como tal
funciona, impõe uma agenda", diz Rodrigo Moita de Deus, diretor-geral da
agência de comunicação Next
power e um dos autores do blog 31 da Armada.
"Mas os anglo-saxónicos usam mais essas ferramentas do que os latinos,
devido às próprias características dos povos." Moita de Deus reconhece que
os resultados podem ser falsificados, mas conclui que "é o pior
mecanismo... à exceção de todos os outros". Mas para o diretor da
Nextpower é diferente falar de um "acordar da sociedade civil" e de
"protestos" da mesma.
"A sociedade civil não acordou, protesta. As
pessoas não querem participar na solução, querem que o problema seja
resolvido."
O surto de petições online e no Facebook deve-se a
esta conjunção: uma vontade de protestar com a facilidade de o fazer. Não
necessariamente com resultados. "O problema é que muitas vezes a petição
online não tem credibilidade suficiente para ser consequente", alerta
Alexandre Guerra, especialista em relações-públicas. "O que não significa
que as entidades visadas nessa petição não devam estar atentas ao que está a
acontecer online, seja ao nível de uma petição, do Facebook ou de outra
plataforma", considera.
Mas há uma distinção importante entre as petições
online e as clássicas, em especial as recolhidas em papel. "A petição
clássica implica uma vontade e um trabalho que ao nível das plataformas online
não existe", sublinha Alexandre Guerra.
"Uma coisa é fazer 'gosto' no Facebook, outra
é levantar o rabo do sofá e ir à manifestação. A petição clássica tem um lado
cívico e pessoal que implica compromisso."
Tem também a consagração legal na Constituição,
visto que a partir de mil signatários, com assinaturas verificadas, a audição
está garantida.
"Quando se faz uma petição clássica há um
objetivo concreto, para resultar numa medida ou alteração de lei. No caso das
petições online a ideia é diferente: é criar buzz, uma corrente mediática que
depois se transforme numa forma de influência e pressão sobre uma
entidade", conclui o especialista em relações-públicas.
Anthony Zacharzewski, presidente da organização não
partidária Demsoc, arrasa as petições online.
"São a comida de plástico da democracia",
diz, citado pelo Guardian. No entanto, plataformas internacionais como a
Change.org, com 2? milhões d€ utilizadores, ou a Avaaz.com, com 17 milhões,
estão a ganhar uma força sem precedentes e a provocar o debate: serão as
campanhas e petições online capazes de reinventar a política e o equilíbrio de
forças na sociedade? A Change.org, por exemplo, conseguiu forçar o Parlamento
da África do Sul a tomar medidas contra a violação "corretiva" de
lésbicas no país. Na Avaaz, uma petição com quase 400 mil assinaturas pediu que
o milionário Rupert Murdoch fosse impedido de comprar a BSkyB, depois do
escândalo de escutas do News of the World. Pressionado, Murdoch retirou a
proposta no último momento.
Ana Rita Guerra
Diário Notícias /Dinheiro Vivo, 19-01-2013
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