por
PAULO BALDAIA
Pode
ser que existam razões que a verdade conhecida desconhece. Muito se fala de um
qualquer segredo escondido entre Belém e São Bento, mas isso não chega para
explicar o desastre da intervenção de Cavaco Silva no 25 de Abril. Correu mal,
houve um flagrante erro de cálculo que prejudica a futura intervenção do
Presidente da República.
Escrevi
muitas vezes defendendo, contra a corrente, a acção do actual Chefe do Estado.
Nunca embarquei no preconceito de que o Presidente se refugia demasiado no
silêncio. E se apelo à memória de quem me lê não é para que possam aferir da
qualidade da minha opinião, mas para que possam ler a crítica que faço a Cavaco
Silva com a certeza de que não se trata de uma atitude persecutória. Continuo a
defender que Cavaco tem tido um papel fundamental naquilo que de acertado se
vai fazendo no País.
Não
embarcando nas leituras, feitas com paixão partidária, que colocam Cavaco num
dos lados da barricada, pode resumir-se a intervenção de Cavaco à ideia de que
o Presidente quer a todo o custo evitar uma crise política e fomentar um
consenso alargado, que permita produzir políticas de médio e longo prazo.
Pois
bem, ontem, apenas dois dias depois da sua intervenção, as notícias chegaram a
Belém dando conta de duas coisas:
1 -
O PS não quer fazer fazer parte deste consenso e acusa o Presidente de ser o
porta-voz do Governo.
2 -
O Governo continua a parecer uma panela de pipocas em que com um pouquinho de
lume começa tudo a saltar. A cada reunião com temas sensíveis saltam à vista as
fragilidades da coligação.
Cavaco
Silva ficou prisioneiro deste paradoxo. Queria uma coisa e tem o seu contrário.
E se o mensageiro não pode ser culpado das más notícias, menos ainda se pode
pensar que a culpa deste paradoxo é de quem não soube compreender o que queria
dizer o Presidente.
Não
me parece sequer que haja algo de muito errado nas coisas que disse o
Presidente da República. O que lhe faltou foi equilíbrio, criticou e elogiou o
Governo, mas para a oposição apenas houve críticas. Os factos que referiu são
comprováveis e a subjectividade, inerente a qualquer discurso político, goza de
um largo consenso político e social. Sim, o défice estrutural baixou. Sim, a
balança de pagamentos está equilibrada. Sim, o povo está cansado da
austeridade. Sim, isso não deve ser utilizado para prometer o que os partidos
sabem ser impossível de concretizar.
Cavaco
Silva quis salientar o que de bom existe e a que nos devemos agarrar e o que de
mau foi feito e tem de ser corrigido. A intenção podia ser boa mas, como se
esqueceu de elogiar também o que a oposição faz bem, falhou o tiro e acertou no
pé.
Por
decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
Diário de Notícias, 28-4-2013
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