João
Cardoso Rosas
Professor Universitário
Como
se tem visto nos últimos dias, encontramos adversários da ADSE tanto no PSD e
no CDS como no PS e no BE. Qual a razão para este facto? A divisão será apenas
em torno de argumentos técnicos e, daí, a sua transversalidade? Nada mais
falso. Vejamos porquê.
Os argumentos pelos quais parte da esquerda está
contra a ADSE não são de todo os mesmos argumentos que invocam os seus
opositores à direita. Mas, em ambos os casos, eles são marcadamente
ideológicos. O argumento básico da esquerda é claro e inscreve-se numa tradição
conhecida: a ADSE faz com que os funcionários públicos recorram à medicina
privada e, desta forma, transfere recursos do Estado para os privados. Para
esta esquerda, todos os trabalhadores devem estar no mesmo sistema de saúde,
estatal e universal. Por seu turno, o argumento da direita é o seguinte: os
funcionários públicos têm privilégios injustificados e a ADSE é um deles. O
Estado não deve pagar um sistema de Saúde especial para os seus servidores à
custa dos contribuintes.
Tanto os argumentos da esquerda como os da direita
são baseados em preconceitos. No primeiro caso, trata-se do preconceito contra
o sector privado. Se, como acontece realmente, os prestadores privados praticam
preços melhores para o Estado, por que razão deve ele optar neste caso por
prestadores públicos? Se uma consulta de medicina geral num privado custa à
ADSE muito menos do que custaria no Serviço Nacional de Saúde, por que razão
deve essa consulta ser estatizada? O problema é que parte da esquerda confunde
justiça social com estatização e uniformização e quer, a todo o custo, acabar
com subsistemas de saúde que perturbam essa lógica.
Os argumentos da direita não são melhores. A ADSE
não é grátis para os seus funcionários. Eles pagam todos os meses, em muitos
casos mais do que pagariam por um seguro privado. Além disso, se muitas
empresas privadas providenciam seguros de saúde para os seus empregados
parece-me igualmente justificado que o Estado contribua para um seguro público
dos seus servidores. Aliás, se o Estado não garantir a saúde dos funcionários
por intermédio da ADSE acabará por fazê-lo através do SNS.
A verdade é esta: se a ADSE fosse extinta é bem
provável que a despesa do Estado aumentasse. Com efeito, os recursos que seria
necessário mobilizar para atender no SNS os 1.300.000 beneficiários desse
sistema seriam provavelmente superiores à transferência orçamental para a ADSE,
não só devido aos custos elevados do sistema público mas também porque os
funcionários do Estado fazem co-pagamentos substanciais quando recorrem a
privados. Além disso, a ADSE pode ser reformada para aumentar a sua
sustentabilidade diminuindo algumas comparticipações e aumentando as
contribuições.
Diário Económico - 23.01.2013
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