O vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça agrada à classe jurídica e ao PSD, CDS e PS. João Correia é outro nome em cima da mesa.
Ana Petronilho
As negociações entre os partidos do Governo para a escolha do próximo Procurador Geral da República (PGR) estão na recta final. Entre os candidatos que têm sido falados entre PSD e CDS, um reúne consenso mais alargado, segundo apurou o Diário Económico: António Henriques Gaspar, 62 anos, vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), desde 2006, e que fez carreira no Ministério Público.
Os procuradores têm exigido que o substituto de Pinto Monteiro, um juiz de carreira, seja uma personalidade que conheça bem o Ministério Público e a própria ministra Paula Teixeira da Cruz já tinha dito que o próximo PGR seria alguém que “ame” o MP. Henriques Gaspar reúne o consenso nos três partidos do arco da governação, incluindo, portanto, o PS, e agrada à classe jurídica.
Feita a escolha e tomada a decisão final, o nome terá, contudo, que ter o aval do Presidente da República, a quem cabe nomear e exonerar um Procurador Geral. Depois de terem chegado à imprensa vários nomes como António Cluny, Cândida Almeida, Francisca Van Dunem ou Eduardo Vera-Cruz Pinto, entre outros, é o nome de Henriques Gaspar que começa a ganhar mais apoios para suceder a Pinto Monteiro a partir de 9 de Outubro. Recorde-se que Henriques Gaspar já tinha estado na calha para o cargo há seis anos, quando Pinto Monteiro assumiu funções como chefe máximo do MP. Na altura, o Presidente da República tinha manifestado agrado pelo nome, mas o então primeiro-ministro, José Sócrates forçou a escolha de Pinto Monteiro, que viveu um mandato muito polémico (ver texto ao lado).
O presidente da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Fernando Negrão, considera o vice-presidente do STJ como sendo “uma pessoa que está muito bem no Supremo e que pode estar muito bem em outros lugares”, disse ao Diário Económico. Também o deputado do PS, Ricardo Rodrigues, diz que Henriques Gaspar é “um magistrado de alta competência e seria um bom nome” para liderar o MP nos próximos seis anos.
Os procuradores, que viveram nos últimos anos em pé-de-guerra com Pinto Monteiro, preferem manter-se cautelosos e não comentar nomes. Ao Diário Económico, Rui Cardoso, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), diz, contudo, que espera que o novo PGR corresponda “ao perfil que em tempos o sindicato divulgou”. Isto é, que conheça a fundo o Ministério Público e que lute pela sua autonomia e dignificação. Certo é que Henriques Gaspar fez toda a sua carreira no MP, estrutura que conhece bem. Rui Cardoso acrescenta que o próximo PGR deve ter “uma grande verticalidade e deve ser independente de qualquer grupo de interesses, partidos ou grupos secretos”.
Contactado pelo Diário Económico, o Ministério da Justiça diz que este é um “assunto que está no foro privado” da ministra. Paula Teixeira da Cruz tem dedicado grande parte das últimas semanas a este assunto – que está também nas mãos de Passos e Portas – e o nome deve ser anunciado até ao final do mês.
Henriques Gaspar é um nome que agrada também aos advogados. Para Marinho Pinto, bastonário da Ordem, o juiz conselheiro do Supremo é um “homem honesto, profundamente inteligente e muito dedicado à sua função”.
João Correia é outro dos nomes fortes apontados para PGR
João Correia, ex-secretário de Estado da Justiça de José Sócrates, foi outro dos nomes que chegou a ser ponderado, apurou o Diário Económico. No entanto, a ministra sabe que este seria um nome mais difícil de obter amplo consenso.
Recorde-se que João Correia esteve envolvido na polémica do alegado pagamento de 72 mil euros a Maria Correia Fernandes, mulher do ex-ministro da Justiça Alberto Martins, por acumulação de funções em dois serviços do MP. Terá sido João Correia a assinar os despachos que terão beneficiado a procuradora. Processo que foi arquivado há três dias.
Contactado pelo Económico, João Correia negou qualquer convite. Disse que não “recebeu qualquer pedido”, que está “em branco” e elogiou Henriques Gaspar: “É um brilhante magistrado e jurista, se for ele, é uma excelente escolha”. Depois de seis anos polémicos do mandato de Pinto Monteiro, o seu sucessor terá um longo caderno de encargos. O principal, para já, será apaziguar a classe, que viveu de costas voltadas com o actual PGR, e arrumar a casa. Terá ainda que se bater pelo reforço da autonomia do MP, pela revisão dos estatutos, pela clarificação das relações com a Judiciária. com I.D.B.
PERFIL
O magistrado que zelou pelos Direitos do Homem
António Henriques Gaspar, 62 anos, foi nomeado para o Supremo Tribunal de Justiça a 20 de Março de 2003. Nasceu em 1949, na Pampilhosa da Serra e foi delegado do Procurador da República em Benavente, Montemor-o-Velho, Condeixa-a-Nova, Lousã, Pombal e Coimbra.
Entre 1987 e 2003 foi Procurador-Geral Adjunto no Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República e entre 1992 e 2003 também foi Agente de Portugal no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. É actualmente Juiz-Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, tendo sido eleito Vice-Presidente em Março de 2006 e reeleito em 2009.
NOMES APONTADOS
Henriques Gaspar – Vice-presidente do Supremo António Henriques Gaspar reúne consenso nos três partidos do arco da governação para substituir Pinto Monteiro, a partir de 9 de Outubro.
João Correia – Ex-secretárlo Estado Justiça O ex-secretário de Estado da Justiça é outro dos nomes apontados mas a ministra sabe que este seria um nome mais difícil de obter amplo consenso.
ANÁLISE JUSTIÇA
RUI RANGEL – Juiz Desembargador
A nomeação do próximo Procurador-Geral da República está à porta. No tabuleiro da investigação criminal e das competências do Ministério Público (MP) na acção penal joga-se, actualmente, a boa ou má imagem e a credibilidade da justiça penal.
No combate à criminalidade económica financeira organizada, à corrupção, ao tráfico de influências a investigação criminal colapsou e muito devido à falta de eficácia das investigações criminais conduzidas pelo MP. Estão a ser investigados processos importantes, cuja verdade material apurada poderá levar à eventual queda do regime político. Gente poderosa foi “convidada” a falar com a justiça, mas nada acontece. O silêncio é ensurdecedor e os resultados nenhuma eficácia apresentam.
Parece que existe uma estranha e escondida cumplicidade. Parece que a justiça deixou-se amarrar pelos interesses da política suja. Tudo se faz, sem pudor e sem medo e nada acontece.
É, por isso, que a escolha do próximo Procurador é, direi, a escolha que não pode falhar. Tem que ser alguém de elevada craveira intelectual e jurídica, não permeável a influências externas, de reconhecida honestidade, dignidade e respeito pelos seus concidadãos. Alguém que não esteja próximo do Poder Político, que não tenha estado ao serviço de comissões de escolha política. Que o não tenha servido.
Alguém blindado que saiba dizer não, que saiba dar um murro na mesa e que investigue tudo o que houver para investigar dou a quem doer!
Alguém que renove o DCIAP e que faça auditorias ao trabalho aí prestado e as divulgue publicamente. Alguém que saiba prestar contas e não deixe que pessoas importantes sejam queimadas, muitas vezes, na praça pública, sem motivo. Alguém que não deixe que as investigações andem, por vezes, ao ritmo dos actos eleitorais.
Alguém que não se intimide com o Sindicato e saiba por na ordem o Ministério Público. Que saiba comunicar e tenha uma estratégia de comunicação com os média.
Que não seja a Rainha de Inglaterra. Para tudo isto não precisa de ser magistrado, mas tem que conhecer bem o sistema de justiça.
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