E a justiça?
Fernando Sobral
O Governo, por sua vontade, fechava quase todos os tribunais. Até o
Tribunal Constitucional. Porque num país onde a ideia de justiça é cada
vez mais uma miragem num deserto, eles deixaram de fazer sentido. A
ideia peregrina de Luís Montenegro de passar o Tribunal Constitucional
para uma adenda ou um beco do STJ mostra o que se pensa da Constituição.
Tal como os documentos do Tribunal de Contas só servem para que as
almas penadas se comovam com os desvarios que não são punidos, acabar
com o Tribunal Constitucional é apenas mais um passo nesta caminhada
para a injustiça total. Portugal está cheio de leis. Falta cumpri-las. E
punir quem as prevarica. É intrigante que o líder da bancada do PSD
atire para o ar a ideia poucas horas antes dos partidos do poder terem
chegado a acordo sobre a lista para o Tribunal Constitucional, depois de
uma vergonhosa incapacidade para acordar alga Um dos maiores dramas de
Portugal é a falta de justiça. E o sentimento de impunidade que está a
minar as instituições democráticas. Não há olho por olho, nem dente por
dente. Há faneca por faneca. A corrupção é um rio que envenena um país. É
aí que se perde grande parte do crédito de Portugal. A corrupção ajuda a
descobrir como é feito um país. E as investigações judiciais abrem as
janelas para um país pouco transparente de cumplicidades silenciadas, de
sacos azuis, de sucateiros e de clubes de interesses.
Onde sectores público e privado apertam as mãos com o dinheiro dos
contribuintes. O atraso político, económico e social passa por esta
justiça ineficaz. Mas destruir o que resta da justiça é tomar Portugal
um faroeste.
Jornal Negócios | segunda-feira, 25 Junho 2012
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