Pedro Santos Guerreiro
- Isto não é um caso, é uma poucavergonha. O escândalo dos "swaps"
nas empresas públicas pode revelar-se ruína maior que um BPP ou várias PPP. Mas
em causa está mais do que má gestão. Em causa está má gestão, má auditoria, má
governação - e talvez má-fé. Quando vir alguém pendurado por causa desta
história, olhe também para quem pendura.
O país está para
enforcamentos rápidos. E é óbvio que, se se confirmar que as administrações de
empresas públicas compraram produtos altamente especulativos, fazendo o Estado
incorrer em riscos inaceitáveis, então quase apetecerá que tenha sido por
corrupção - por que se não foi por burrice. Ou enganaram ou foram enganados.
Mas há mais gente envolvida do que parece.
É normal que as
empresas comprem produtos financeiros que reduzam o risco de variações de
preços de factores que não controlam mas de que dependem. Assim é por exemplo
com taxas de juro, taxas de câmbio ou preços de petróleo. E foi isso que várias
empresas públicas fizeram. Só que correu mal, pois as taxas euribor, por causa
da crise financeira, não subiram, caíram. E correu ainda pior porque, segundo o
Governo, as suas estruturas eram altamente especulativas. Conheciam os gestores
os riscos do que estavam a comprar? Eles ainda não se defenderam, mas
aparentemente não. Se é o caso, esqueceram-se da regra básica de Warren
Buffett: não invista no que não compreende.
O problema parece no entanto
ser mais tentacular. Alguns destes "swaps" datam de 2004. Foram
aprovados por Conselhos de Administração e foram publicados em relatórios &
contas, reportados a revisores oficiais de contas, vistos por conselhos
fiscais, analisados por auditores externos e aprovados pelo Estado em
Assembleia Geral. Ninguém sabia? Ninguém reparou? Ninguém chumbou nem realçou
os riscos? O Tribunal de Contas levantou o problema em 2006. Há relatórios da
inspecção-Geral de Finanças de 2008 que chegam a elogiar esta gestão de risco,
pois tinha então sido lucrativa! A Direcção-Geral de Finanças tinha
conhecimento. Há despachos do Governo, assinados por Costa Pina, em 2009 e
2011, sobre a matéria. E agora, em 2013, é que toda a gente acorda?
O caso é muito grave.
Nas actuais auditorias, a Inspecção-Geral de Finanças tem-se feito acompanhar
de peritos informáticos, o que pode indiciar que há suspeitas de corrupção.
Três mil milhões de euros (que é perda potencial, que será menor se as taxas
euribor subirem nos próximos anos) é o dobro do corte de despesa do Estado que
o Tribunal Constitucional agora chumbou. Há muitas responsabilidades por
apurar, sobretudo das administrações à data dos Metros de Lisboa e do Porto,
mas incluindo também as políticas por se ter escondido o problema durante muito
tempo - vigilância que deve estender-se a este Governo, que já fez tombar dois
secretários de Estado por este caso.
O Governo ainda não
prestou informação, as empresas não falaram, os suspeitos ainda não se
defenderam. Entretanto, os bancos (estrangeiros) estão a ser pressionados a
negociar. Mas se fizeram outros de parvos, os parvos são os outros.
Curiosamente, não há notícia de perdas desta dimensão em empresas privadas. O
escândalo ainda vai no adro mas já se penduram cordas. A única coisa que se já
sabe é quem são As bestas. São os contribuintes, claro, As bestas de carga do
costume. Bestas de carga fiscal.
Pedro
Santos Guerreiro Director
Jornal
de Negócios, 27-04-2013
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