Público
- 02/03/2013 - 00:00
Listagens
do Ministério da Justiça dispararam no último ano, fruto da crise. Este ano já
entraram mais 31 mil processos de execução nos tribunais, num valor global de
756 milhões de euros
O
número de registos na Lista Pública de Execuções (LPE), onde são incluídos os
nomes de empresas e particulares que não pagaram as dívidas cobradas
judicialmente, aumentou 84% nos últimos 12 meses. A base de dados do Ministério
da Justiça conta agora com mais de 43 mil casos, em comparação com os cerca de
23 mil registados até Fevereiro de 2012.
Dados cedidos ao PÚBLICO pelo Ministério da Justiça revelam que
nos dois primeiros meses deste ano deram entrada na LPE mais 5561 registos, o
que fez com que o número global de devedores crescesse para 43.057. O maior
impulso foi dado em Janeiro, com a inclusão de 3313 novos nomes. Face a
Fevereiro de 2012, verifica-se uma subida de 84% no número de empresas e
particulares inscritos, já que até esse período a lista abrangia apenas 23.391.
A escalada é ainda maior quando comparada com os números de
2011. Face a este ano, que chegou ao final dos dois primeiros meses com 6485
registos, há hoje 6,6 vezes mais devedores inscritos na LPE do que em 2012.
Remontando a 2010, a escalada é muito mais expressiva, já que nesse ano estavam
registados apenas 376 executados nas listagens, em Janeiro e Fevereiro.
Além da crise, e do impulso que tem dado às acções de execução,
outro factor explica este acentuado crescimento: a LPE só começou a funcionar
em meados de 2009, tendo tido poucas entradas esse ano (apenas 68 entre Junho e
Dezembro). Os registos começaram a avolumar-se com mais intensidade a partir de
2011, tendo atingido agora números-recorde. Para estas listagens entram todos
os devedores que não pagam as dívidas cobradas judicialmente, uma vez extinta a
execução e após o decurso do prazo legal para reclamação.
O avolumar da lista negra de devedores tem acompanhado o
crescimento do valor das execuções movidas nos tribunais. Dados da Câmara dos
Solicitadores, os profissionais que acompanham este tipo de processos, mostram
que em 2012 foram interpostas mais de 236 mil acções deste tipo, o que
significou uma queda homóloga de 5,4% face aos quase 245 mil processos do ano
anterior. Já em Janeiro e Fevereiro de 2013, entraram mais 31 mil.
No entanto, o valor associado às execuções tem aumentado ao
longo dos anos. Em 2009, as dívidas associadas a estas acções representavam
4452 milhões de euros, mas o montante subiu logo para 5209 milhões no ano
seguinte. Em 2012, o valor global situou-se em 6662 milhões de euros, mais 18%
do que em 2011 (5644 milhões). Nos primeiros dois meses deste ano, acumulam-se
já 756 milhões de euros de créditos por pagar em processos de execução.
Estes aumentos estão muito relacionados com o disparar das
insolvências, que atingiram praticamente os 19 mil casos em 2012, e sobretudo
das que afectam particulares - que actualmente representam 67% do total, de
acordo com dados do Instituto do Informador Comercial. Além disso, as falências
judiciais têm vindo a envolver montantes cada vez mais elevados, quando estão
ligadas a grandes empresas que não conseguem fazer frente às dificuldades
financeiras que atravessam.
Na quarta-feira, a Associação Portuguesa dos Administradores
Judiciais (APAJ) esteve reunida com a troika,
no âmbito da sétima avaliação ao programa de assistência a Portugal. As
insolvências têm sido um dos temas quentes na agenda das autoridades externas,
que exigem que seja posto rapidamente um travão à escalada destes processos. Um
objectivo que o Governo continua, no entanto, sem conseguir cumprir.
Vários esforços foram feitos ao longo do ano passado para
responder às exigências da troika,
tendo o executivo lançado uma reforma legislativa em redor das insolvências que
teve como principal passo a revisão do código que regulamenta estes processos.
Foi ainda criado um novo programa, o Revitalizar, para empresas em
pré-insolvência e que visa aumentar os casos de recuperação (que pesam apenas
cerca de 1% nos casos de falência judicial).
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