Se houvesse amanhã um presidente a sério na RTP, a
mesma ou concessionada, a sua primeira medida seria baixar o seu salário para
um valor inferior ao dum secretário de Estado e prescindir de mordomias.
Por: Eduardo Cintra Torres,
ectorres@cmjornal.pt
Com os empregados da RTP, ele ou ela estabeleceria um
plano para centrar toda a actividade da empresa na concepção e desenvolvimento
de conteúdos de interesse público alternativos aos privados, num canal
destinado a toda a população e com capacidade de interessar todos os falantes
de língua portuguesa. Anularia o cargo de director-geral. Nomearia um director
de programas capacitado para desenvolver essa programação e que fosse sentida
pelos portugueses como um valor acrescentado e necessário a todos. Apoiaria
registos de teatro, música e outras artes, eruditas e populares, e de desportos
alternativos ao futebol, incluindo amadores e escolares, promovendo apenas os
jogos significativos em termos nacionais (Selecção, Taça de Portugal).
Promoveria ao máximo a programação infantil e juvenil. Num serviço público, os
conteúdos são tudo. O resto é burocracia. Daria toda a garantia aos jornalistas
de que não haveria nenhuma pressão e que os defenderia contra quaisquer
pressões políticas, económicas ou desportivas. Procuraria que o paradigma
jornalístico irradiasse a demagogia e o populismo e desse mais atenção à vida
local e dos portugueses no estrangeiro e à actualidade internacional.
Promoveria a formação permanente dos empregados, em especial jornalistas.
Só trabalharia num serviço público sem publicidade.
Zero de publicidade no serviço público. Geriria apenas com base na taxa dos
seus concidadãos, excluindo todas as outras formas de financiamento pelo
Estado, numa gestão rigorosa e dando contas ao Estado e aos portugueses de cada
euro gasto.
Tomaria todas as medidas para racionalizar recursos
humanos e acabar com desperdícios e compadrios. Transparência total. Reduziria
drasticamente o número das direcções-gerais, poupando e agilizando para um
único fim: criar e apoiar conteúdos de interesse público.
Resolveria o problema dos arquivos, passando o
histórico (até pelo menos 1992) para o ANIM e para a internet, mas com acesso
total da própria RTP ao arquivo.
Desenvolveria uma estratégia com o cinema português –
ficção e documentário. Promoveria ao máximo a produção externa, para
revitalizar o sector audiovisual português.
Fecharia a pseudo-academia RTP e encetaria uma
colaboração directa com universidades e escolas de artes e media. Convidaria os
beneficiários dos salários milionários a saírem ou a aceitarem salários
razoáveis.
A DEMISSÃO DA GLORIOSA ADMINISTRAÇÃO QUE NADA FEZ
Lá se foi a administração da RTP. Que pena não terem
também acabado com a inutilidade dum "director-geral". Não vi
referido que Guilherme Costa só geriu "bem" porque a empresa passou a
depender do Orçamento de Estado. Quanto ao resto, em um ano, não fez rigorosamente
nada do que tinha de fazer quanto à reestruturação. Está tudo na mesma. Foi
adiando a reforma da concessionária, com todas as consequências duma gestão
paralisada e sem pinta de imaginação. A incompetente recondução de Costa pelo
ministro Relvas em 2011 arrastou por mais um ano a inacção e incompetência dum
gestor político profissional, criador de mitos acerca dos "lucros"
numa empresa que recebeu 1195,6 milhões de euros nossos desde 2010.
VÃO LÁ PARA A TDT MAS NÃO MINTAM
O parlamento decidiu atribuir-se um canal na TDT. Diz
que não é um canal de TV, para fazer de nós parvos. Eu preferiria um canal de
todos os órgãos do Estado, para aliviar as pressões, mas que este é um canal de
TV, é. Passa conteúdos do parlamento, que são escolhidos e apresentados através
duma rede de TV e de processos unicamente televisivos. Façam, mas não mintam.
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