O horror, o caos, e sobretudo, a raiva. É
sobretudo disto que John Tlumacki, fotógrafo do jornal Boston Globe, falou
ao descrever os ataques que testemunhou na maratona de Boston, na
segunda-feira. No final teve de deixar ficar os seus sapatos: estavam cobertos
de sangue.
John Tlumacki cobriu mais de 20 maratonas nos seus 30 anos no Boston
Globe. “Estava na linha da meta, cá em baixo. Estava tudo normal. O
ambiente era jovial – as pessoas estavam contentes, a aplaudir. E a chegar a um
ponto em que "francamente torna-se um bocadinho aborrecido para um
fotógrafo”, conta ao blogue Lightbox, dos editores de fotografia da revistaTime.
“E então ouvimos a explosão.”
Não foi uma explosão muito forte, apesar de Tlumaki contar que a
percussão atirou as suas máquinas para o ar. O que se sentiu foi sobretudo o
fumo. “Uma enorme nuvem de fumo e pessoas a gritar.”
“Mesmo à minha frente, um dos maratonistas caiu – com a força da
explosão”. O que faz um fotógrafo? Tlumaki não pensou. “O meu instinto foi: és
um fotógrafo, é isso que fazes”. Correu em direcção à explosão. Polícias de
armas na mão, confusos. Nem eles sabiam o que estava a acontecer. Olhavam para
a esquerda e para a direita. Poderiam ter sido apanhados pela explosão.
Tlumacki fotografou o maratonista caído, os polícias a olharem em todas as
direcções atrás dele.
A primeira coisa que viu quando chegou às barreiras: membros de
pessoas arrancados. Uma enorme quantidade de sangue. “E muita raiva. As pessoas
estavam mesmo enraivecidas. O que se passa? Porque está isto a acontecer na
Maratona de Boston?”.
Cerca de 15 segundos depois da primeira explosão, a segunda. A
polícia tentou levar toda a gente para o meio da rua porque podia haver outra
bomba na zona lateral. "Foi o caos", disse num video publicado pelo Boston
Globe. "Havia corpos por todo o lado, era difícil chegar às vítimas
por causa das barreiras. É indescritível, ver pessoas sem pernas, sem pés, a
morrer à tua frente."
“Não consigo comparar isto a nada em que tenha alguma vez estado.
O horror. E a raiva.”
Tudo isto a acontecer “com todas as bandeiras de todas as nações”.
E “um monte de pessoas, pessoas feridas, por debaixo destas bandeiras.”
A trabalhar, como que protegido pela máquina, Tlumacki tentou
deixar as emoções à parte. “Tentas não te envolver. Mas havia um homem
debruçado sobre uma mulher. Obviamente ela estava ferida com muita gravidade, e
ele estava só a tentar confortá-la. Estava a sussurrar-lhe ao ouvido. Do ponto
de vista de um fotógrafo, já viste estas imagens. Fiz a foto, e segui em
frente”, disse ao Lightbox. No vídeo do Globe, comenta: "Acho
que foi a imagem mais comovente."
Um polícia aproximou-se então de Tlumaki. “Faz-me um favor”,
disse-lhe, “não explores a situação.” E Tlumaki pensou: “Não posso pensar
nisso, tenho de continuar a fazer o que estou a fazer.”
Ficou “tão abalado”, confessa. “Estava sem palavras quando estava
lá. Os meus olhos estavam a encher-se de lágrimas atrás da máquina. A outra
parte triste foi que tive de tirar os sapatos porque estavam ensopados em
sangue de andar no passeio a fotografar.”
Público, 17-4-2013
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