sábado, 9 de fevereiro de 2013

Garzón diz que os populares não têm "vontade política" para investigar a corrupção

ANA GOMES FERREIRA 
público - 09/02/2013 - 00:00
Aguirre, a presidente dos populares de Madrid, ficou isolada ao atirar-se à cúpula do partido devido ao Caso Bárcenas
O juiz espanhol Baltasar Garzón defendeu ontem na televisão Cadena SER que há "indícios "claros de "corrupção" no Partido Popular (PP) e que os casos Bárcenas e Gürtel deveriam ser investigados pela mesma instância judicial, a Audiência Nacional.
Este tribunal nacional tem nas mãos a investigação sobre o escândalo de corrupção ligado ao PP espanhol conhecido por Caso Gürtel. Mas o relativo ao ex-tesoureiro dos populares, Luis Bárcenas, está nas mãos do departamento anticorrupção do Ministério Público. O ex-tesoureiro do PP, através de uma contabilidade paralela, receberia avultadas verbas de empresas, distribuindo parte delas pela cúpula do partido através de pagamentos mensais.
Garzón era o juiz da Audiência Nacional que, em 2009, mandou realizar escutas a suspeitos no Gürtel com o objectivo de provar que se tratava de "um delito continuado". Foi acusado de abuso de poder e condenado a 11 anos sem exercer a profissão.
O antigo juiz disse que nas investigações Gürtel surgiu-lhe o nome de Bárcenas, que foi imputado em 2009. Explicou que os indícios de crime são evidentes, mas, concluiu, há "falta de vontade política" para fazer avançar os dois processos.
O Caso Bárcenas, que está a desgastar a imagem do PP e a credibilidade de Mariano Rajoy, o presidente do Governo, já abriu uma guerra interna no Partido Popular (direita). Ontem, elementos da cúpula do partido disseram ao jornal El País que a líder dos populares madrilenos, Esperanza Aguirre, "passou todos os limites" da "deslealdade".
Aguirre era a grande rival de Rajoy, mas, no ano passado, anunciou que se retirava da política activa por motivos de saúde. Manteve-se, porém, na liderança em Madrid e, agora, decidiu atacar o presidente do Governo devido a Bárcenas.
Em público, Aguirre apelou à "regeneração urgente da democracia". Em privado, numa reunião partidária, fez duras críticas à forma como o partido está a gerir o escândalo, atacando a secretária-geral, Dolores de Cospedal. E defendeu o despedimento da ministra da Saúde, Ana Mato, suspeita no caso Gürtel.
De acordo com as fontes do El País, na reunião partidária, onde Rajoy não esteve, Aguirre enfrentou a presidente da Câmara de Madrid, Ana Botella (mulher do ex-presidente de um anterior Governo, José María Aznar), que tem defendido Mato.
A direcção nacional do partido, que começou a ser ouvida pela imprensa espanhola, disse estar furiosa com Aguirre, que foi ministra da Educação e da Cultura de Aznar e, depois, a primeira mulher a presidir ao Senado.
Os "marianistas", como são conhecidos os fiéis ao primeiro-ministro (que dominam as estruturas mais altas do partido), puseram em marcha um plano para isolar Aguirre. Não houve, no seio dos populares, quem a defendesse. Até o homem mais bem posicionado para substituir Rajoy (caso este caia), que não é considerado um "marianista", Alberto Núñez Feijóo, presidente da Junta autonómica da Galiza, disse: "Não há um presidente que acredite mais na regeneração do que [Rajoy]".
A guerra está, pois, aberta com Aguirre que, recentemente, se manifestou contra uma reforma na forma como as listas eleitorais são feitas (ela controla-as e quem não mostra obediência, diz o El País, é imediatamente posto fora). Quem sabe se a hostilidade aberta pela ex-ministra não é uma forma de as hostes de Rajoy tomarem, finalmente, conta do partido em Madrid.

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