O grupo que atacou as Torres Gémeas serviu para testar
ferramenta que analisa fenómenos em rede (Ray Stubblebine/Reuters
(arquivo))
Um falso rumor na Internet tem uma fonte
primordial, assim como uma epidemia tem início num surto localizado ou uma rede
de terroristas tem um líder que comanda actos como o ataque de 11 de Setembro
de 2001. O que costuma ser difícil, mas determinante para combater estas
situações, é encontrar a origem destes fenómenos que acontecem através de redes
de comunicação. Mas um algoritmo desenvolvido por um português, com outros
colegas, pode ajudar a determinar a origem de fenómenos deste tipo, com poucos
pontos de monitorização destas redes. O estudo foi agora publicado na revista Physical
Review Letters.
Osama bin Laden, o líder da Al-Qaeda morto em 2011, foi o responsável último pelos ataques às Torres Gémeas e ao Pentágono e pela tentativa falhada à Casa Branca, a 11 de Setembro de 2001. Mas foi Mohamed Atta, o piloto do avião que embateu contra a torre Norte, que organizou o esquema terrorista. Poucos dias depois dos ataques, os Estados Unidos conseguiram unir as ligações da rede terrorista e Atta foi identificado como o responsável pelo esquema.
Pedro Pinto, cientista português a trabalhar na Escola Politécnica Federal de Lausana, Suíça, chegou quase à mesma conclusão, quando utilizou um modelo algorítmico que desenvolveu com Patrick Thiran e Martin Vetterli, ambos da mesma instituição. "Para o modelo funcionar, é preciso perceber a rede", disse Pedro Pinto.
Um exemplo muito actual é o Facebook, uma rede social onde as pessoas têm amigos, que por sua vez têm mais amigos, alguns comuns, outros não, e assim sucessivamente. Cada pessoa é um nó nesta rede e quando um rumor é lançado por alguém propaga-se. A altura em que esse rumor chega a um dado utilizador depende do número de nós que há entre essa pessoa e a fonte do rumor, e o tempo que a informação demora a ser transmitida de nó em nó.
Segundo Pedro Pinto, que fez Engenharia Informática na Universidade do Porto antes do doutoramento no Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e de ir para a Suíça, o estudo dos vírus informáticos ajudou muito a prever como se propaga a informação na Internet. Mas o inverso, detectar a origem dos vírus quando eles já estão espalhados, não era nada fácil.
Para resolver esse problema, a equipa partiu de uma investigação sobre um surto de cólera na África do Sul. "Tínhamos os dados, formulámos o modelo de como o vírus se propagou [nas redes de água, de transportes e nos rios] e desenvolvemos os métodos para determinar a origem [do surto]", explicou o cientista. Depois, a equipa testou o algoritmo noutro tipo de redes.
Um desafio complicado é o das redes terroristas: estão escondidas, a informação passa de várias formas entre os seus membros e com frequência muito variável. O grupo responsável pelos ataques do 11 de Setembro foi alvo de testes deste algoritmo, chamado SparseInf. Para tornar o teste realista, a equipa partiu do princípio de que só conseguia espiar a informação que passava por dois elementos da rede.
Os cientistas utilizaram a informação que foi publicada nos jornais sobre as ligações entre os 62 elementos conhecidos da rede. Fizeram vários testes à procura do seu líder, em que um dos membros espiado era sempre o mesmo e o outro variava. Num dos pares, o algoritmo conseguiu reduzir os potenciais cabecilhas dos ataques do 11 de Setembro a três terroristas - e um deles era Mohamed Atta.
Apesar dos aperfeiçoamentos que ainda são necessários, o algoritmo mostra que "um pequeno número de observadores pode ser uma alternativa eficiente à monitorização de cada um dos nós numa rede", conclui o artigo. E pode ser pensado para situações tão diversas como a monitorização de uma substância tóxica introduzida numa estação de metro ou o alastrar de uma pandemia global de aeroporto em aeroporto. "Quase todos os sistemas podem ser modelados por redes", diz Pedro Pinto, que vai disponibilizar o programa no seusite para "quem quiser brincar com ele".
Agora, o cientista está interessado em estudar os nós mais influentes na Internet, como blogues, que podem, por exemplo, permitir às agências publicitárias escolher um público-alvo para um produto.
Nicolau
Ferreira
Público 15 de Agosto de 2012
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