Somos o 3.º país da Europa onde
suicídio mais cresceu
por Lusa, publicado por Ricardo
Simões Ferreira
Portugal
é o terceiro país da Europa onde o suicídio mais cresceu nos últimos 15 anos,
estimando-se que morram mais de cinco pessoas por dia, revela um relatório
europeu que é hoje apresentado.
Os dados constam do projeto
OSPI-Europe, uma estratégia de prevenção do suicídio preconizada pela Aliança
Europeia Contra a Depressão (EAAD), organizada em quatro níveis de intervenção.
Segundo o mesmo documento,
estima-se que cerca de 20 milhões de europeus sofrem de depressão e mais de 60
mil morrem anualmente por suicídio.
Em Portugal, as doenças mentais
comuns afetam quase 23% dos portugueses adultos (mais de dois milhões por ano)
e a depressão afeta 7,9% dos adultos (400 mil pessoas), sendo o suicídio uma
complicação médica resultante destas perturbações mentais, em particular da
depressão.
Em Portugal morrem por ano cerca
de duas mil pessoas por suicídio, sendo mais de mil registadas como suicídio e
outras tantas como mortes violentas indeterminadas, estimando-se que mais de
75% destas sejam suicídios escondidos.
Nos últimos 15 anos registou-se
uma tendência para o aumento do suicídio no país.
Na Europa, além de Portugal, este
fenómeno de aumento só se verifica em Malta, na Islândia e na Polónia.
O suicídio de cada português tem
um custo "muito elevado, considerando custos diretos, indiretos e custos
humanos intangíveis". Estes últimos correspondem a 85% do custo, pelo que
300 mil euros dizem respeito a custos diretos e indiretos.
Para fazer face a esta realidade,
o EEAD desenvolveu um modelo (OSPI-Europe), testado e documentado, "com
evidência científica" de redução de suicídio nas regiões onde foi
aplicado.
O modelo de quatro níveis
caracteriza-se por uma intervenção comunitária que tem como alvo os cuidados de
saúde primários, a população em geral, os recursos comunitários locais (como
padres, professores, polícia ou media) e serviços e cuidados específicos (como
os grupos de auto-ajuda).
O elemento principal deste
projeto é a transmissão de conhecimento, através de sessões de formação, e tem
como finalidade apresentar recomendações aos decisores políticos de saúde, de
forma a que adotem medidas de prevenção do suicídio com base científica.
Esta estratégia foi aplicada na
Alemanha, na Hungria, na Irlanda e em Portugal, com o objetivo de se obter a
sua validação científica.
Em Portugal, a projeto-piloto foi
no concelho da Amadora e a 'região controlo' foi o concelho de Almada, tendo
sido formados profissionais de saúde, assistentes sociais, polícias, padres,
farmacêuticos e professores.
Em termos de resultados, as taxas
de tentativa de suicídio diminuíram, dois anos depois do início do projeto, de
150 para 115 por 100 mil (menos 23,3%) na Amadora. Já em Almada verificou-se um
aumento de 122 para 138 por 100 mil (mais 13,1%).
"Em números absolutos, foi
observada uma redução de 18,05% na Amadora em relação a Almada", refere o
documento.
A EEAD pretende que a estratégia
nacional de prevenção do suicídio consiga reduzir a taxa de suicídio em 15% até
2017 e que o suicídio passe a ser encarado como uma complicação médica, que
pode ser prevenida, acabando com o estigma associado a este tipo de morte e à
depressão.
O estudo OSPI-Europe -
"Otimização de Programas de Prevenção do Suicídio e sua Implementação na
Europa", financiado pelo 7.º Programa-Quadro de Investigação e Desenvolvimento
da Comissão Europeia, teve inicio em Outubro de 2008 e termina no dia 30 de
Março.
Diário de Noticias, 14-03-2013
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