O rei Abdullah assinou os
decretos com a ordem de execução
A Arábia
Saudita executou, por pelotão de fuzilamento, sete homens que tinham sido
condenados à pena capital por roubo à mão armada. Riad ignorou os apelos à
clemência feitos por grupos de defesa dos direitos humanos e investigadores das
Nações Unidas, que denunciaram um processo injusto, em que os arguidos, alguns
ainda menores à data dos crimes, foram sujeitos a tortura e não tiveram direito
a defesa.
“Os sete homens, considerados
culpados de vários ataques à mão armada, foram executados quarta-feira em
Abha”, noticiou a agência oficial SPA, referindo-se a uma das
principais cidades no empobrecido Sul do próspero reino saudita. O
despacho fala numa execução pública para que os condenados “sirvam de exemplo”
e uma testemunha contactada pela AFP contou que os homens, com idades
compreendidas entre os 20 e os 24 anos, “foram fuzilados numa praça pública da
cidade, na presença de sauditas e estrangeiros reunidos para a ocasião”.
Os sete condenados faziam parte
de um grupo de 23 homens presos em 2006 por roubos a joalharias ocorridos nos
dois anos anteriores. A Amnistia Internacional avisou, no entanto, que os
detidos “foram torturados para confessarem”. “Seria chocante que as autoridades
sauditas realizassem estas execuções”, acrescentou a Human Rights Watch (HRW)
num comunicado divulgado nos últimos dias, sublinhando que “é mais do que tempo
de [as autoridades] sauditas pararem de executar pessoas que cometeram crimes
quando eram menores”.
Denúncias feitas na primeira
pessoa por um dos arguidos que, no início da semana passada, conseguiu falar
com um jornalista da AP através de um telemóvel enviado clandestinamente para a
prisão de Abha. “Eu não matei ninguém. Não tinha sequer armas quando roubámos a
loja, mas a polícia torturou-me, bateu-me e ameaçou espancar a minha mãe para
me obrigar a confessar que tinha uma arma”, disse Nasser al-Qahtani à agência
norte-americana. “Eu só tinha 15 anos. Não mereço morrer”, lamentou-se o
saudita, acrescentando que a maioria dos membros do gang era
como ele, menor.
No início do mês, o rei Abdullah
assinou o decreto autorizando as execuções, que estiveram agendadas para o
dia 5 de Março mas que acabaram por ser adiadas por alguns dias, criando
expectativas de que as autoridades poderiam dar ouvidos à pressão
internacional. Ainda na terça-feira, três investigadores de Direitos Humanos da
ONU tinham pedido a Riade que adiasse a execução, por considerarem que o
julgamento violara as mais básicas normas internacionais de justiça. Qahtani
contou à AP que, nos seis anos em que esteve detido, foi levado três vezes a
tribunal e que em nenhuma delas o juiz lhe atribuiu um advogado ou deu ouvidos
às suas queixas: “Mostrámos-lhe as marcas de tortura e de espancamento, mas ele
não nos ouviu.”
“As acusações contra estas sete
pessoas terão sido fabricadas e os sete foram condenados em julgamentos
injustos”, afirmaram os peritos da ONU num comunicado em que pedem clemência às
autoridades. Ali Al-Ahmed, director do Instituto para os Assuntos do Golfo e um
crítico de Riad, acusou também as autoridades de usarem os sete homens como um
exemplo para a população do Sul, “uma região fortemente marginalizada pela
monarquia, que vê a sua população como cidadãos de segunda classe”.
Mas o ultraconservador reino
saudita, onde a pena de morte é aplicada para crimes de assalto à mão armada,
violação, homicídio, apostasia ou tráfico de drogas, ignorou os apelos. Só que,
ao contrário do previsto, os sete homens não foram mortos por decapitação
– uma prática que a Arábia Saudita anunciou nesta semana que pretende
abandonar, não por a considerar desumana, mas devido à “penúria de carrascos
capazes de manejar o sabre”, escreveu a AFP.
O recurso a pelotões de execução
está ainda a ser analisado pelo Governo, mas os governadores das províncias
foram já informados de que poderão usar este método que “não é contrário à sharia”, a lei islâmica que o país aplica de forma
extremamente estrita. Em 2012, 76 pessoas foram decapitadas na Arábia Saudita,
segundo um cálculo da AFP com base em informações do Ministerio do Interior.
Segundo a Amnistia Internacional, quase um terço estava acusado de tráfico de
droga.
Público, 14-03-2013
Público, 14-03-2013
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